Já passavam das sete horas da
noite. Fui abrindo os olhos devagarzinho e encontrei a Rafa sentada na cama com
a mão na minha testa. Ela disse baixinho:
− Você teve febre.
− Tive? Não tenho mais?
− Fiquei monitorando você. Acho
que você está com insolação.
Consegui sentar na cama. Fiquei
um pouco tonta e enjoada, respirando fundo.
− Você quer sair com a gente?
− Meu celular tocou?
− Não tocou. Você quer sair
comigo e com as gurias? Vamos dar uma volta no centro mais tarde.
Lembrei que era uma chance de eu
ver o Nando. Não perderia aquela chance nem que morresse no meio da praia.
− Vou – respondi saindo da cama.
A parte pior do enjoo já tinha passado. – Pode ser que eu o encontre.
Rafa me olhou como se eu fosse um
caso perdido. Fui me arrastando até o banheiro tendo todas as meninas atrás de
mim recomendando cuidado. Quando me olhei no espelho, percebi porque elas
estavam tão preocupadas. Meu rosto estava rosado. Aliás, eu toda estava cor de
rosa.
− Tá queimando? – perguntou uma
delas.
− Nem tanto...
Alguém abriu o chuveiro e deixou
na água fria. Rafa comentou:
− Se o vermelhão virar bronzeado,
a Paulinha será a garota mais bonita da praia.
Afinal de contas, o banho fez com
que eu me sentisse melhor. Na realidade, o que mais me doía era o fato de o
Nando não ter ligado. Eram quase oito horas da noite e ele já deveria estar
acordado. Tomei dois copos de suco de melancia e ficamos de papo até quase às
dez horas. O celular não se mexeu. Resolvemos sair e eu o coloquei em posição
de destaque dentro da minha bolsa. Já lá fora, o ar fresco da noite me deixou
mais confortável. Minha pele estava quente, mas não chegava a incomodar. A
noite tinha tudo para ser legal, senão fosse o fato de eu ter sido abandonada pelo
Nando. Tive vontade de chorar, enquanto passeava pelo centro com as meninas.
Meus olhos perscrutavam todos os rapazes e todos tinham o rosto dele. Nenhum
era meu primo.
Rafaela já deveria ter contado
para as outras das minhas peripécias e da minha dor e era nítido o esforço de
todas para me agradar. Mas minha cara de tristeza destoava da alegria geral,
daquele clima de verão e de praia que todas as pessoas que caminhavam pelo
centro demonstravam. Senti o cheirinho da maresia quando paramos para ver um grupo
de músicos amadores que tocavam em uma esquina. Fiquei um pouco afastada delas,
indiferente para o som que eles tocavam. Meu mundo, naquele momento, era outro.
Escutei um celular tocando.
Fiquei em silêncio, quieta,
meditando. O celular tocou até morrer e ninguém atendeu. Devia haver algum
surdo ao meu redor.
O som do toque do celular
recomeçou. Desta vez eu estava mais atenta. O toque era igual ao meu... Será
que era o meu celular que tocava? Acho que não.
Abri a bolsa, meio atrapalhada.
Aqueles malditos músicos tinham feito com que eu não percebesse que era o meu
aparelho que vibrava, ensandecido. Com as mãos tremendo, olhei para o visor e
não reconheci o número. Ai, meu Deus…
− Alô?
Minha voz saiu estranha. Puro
medo. E se não fosse ele?
− Pensei que você não fosse me
atender.
Quase gritei de felicidade, mas
tentei me manter. O Nando poderia estar por perto e eu não queria que ele
testemunhasse minha expressão de êxtase.
− Tem uma música tocando aqui
onde estou – expliquei tentando deixar a voz firme.
− Eu sei.
− Sabe como? Está conseguindo
escutar? – Minhas pernas eram feitas de bambu.
− Claro. Estou aqui também.
Felizmente as meninas estavam tão
absorvidas com os músicos que haviam me esquecido. Dei uma volta em torno de
mim mesma tentando encontrá−lo. Nem sinal.
− Onde? Não enxergo você.
− Estou pertinho.
Eu ri. Nossa, como eu estava
contente.
− Onde? Quer parar de brincar
comigo?
Percebi que uma mão me acenava a
alguns metros de distância. Algumas pessoas o encobriam, mas o Nando estava lá.
Esqueci-me da Rafa e das outras. Esqueci de tudo, claro. Minhas pernas trêmulas
me levaram de alguma forma até ele. Fui dando encontrões nas pessoas, na ânsia
de chegar mais rápido. O Nando veio ao meu encontro, trazendo no rosto aquele
sorriso encantador. Meu Deus.
− O sol foi inclemente com você –
disse ele quando chegou mais próximo de mim.
E eu não quis nem saber. Fui
direto me pendurando no pescoço do Nando para beijá−lo. Ainda bem que ele
retribuiu.
− Você está com alguém?
− Com você – disse eu depois do
beijo que me deixou ofegante.
Acho que era isto que ele queria
ouvir. Pegando a minha mão, o Nando perguntou:
− Vamos sair daqui? Quer ir para
um lugar mais calmo?
− Quero.
Não precisava nem perguntar.
Aonde quer que ele fosse, eu iria junto. Simples assim.
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