sábado, 14 de abril de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 8)


Já passavam das sete horas da noite. Fui abrindo os olhos devagarzinho e encontrei a Rafa sentada na cama com a mão na minha testa. Ela disse baixinho:

− Você teve febre.
− Tive? Não tenho mais?
− Fiquei monitorando você. Acho que você está com insolação.

Consegui sentar na cama. Fiquei um pouco tonta e enjoada, respirando fundo.

− Você quer sair com a gente?
− Meu celular tocou?
− Não tocou. Você quer sair comigo e com as gurias? Vamos dar uma volta no centro mais tarde.

Lembrei que era uma chance de eu ver o Nando. Não perderia aquela chance nem que morresse no meio da praia.

− Vou – respondi saindo da cama. A parte pior do enjoo já tinha passado. – Pode ser que eu o encontre.

Rafa me olhou como se eu fosse um caso perdido. Fui me arrastando até o banheiro tendo todas as meninas atrás de mim recomendando cuidado. Quando me olhei no espelho, percebi porque elas estavam tão preocupadas. Meu rosto estava rosado. Aliás, eu toda estava cor de rosa.

− Tá queimando? – perguntou uma delas.
− Nem tanto...

Alguém abriu o chuveiro e deixou na água fria. Rafa comentou:

− Se o vermelhão virar bronzeado, a Paulinha será a garota mais bonita da praia.

Afinal de contas, o banho fez com que eu me sentisse melhor. Na realidade, o que mais me doía era o fato de o Nando não ter ligado. Eram quase oito horas da noite e ele já deveria estar acordado. Tomei dois copos de suco de melancia e ficamos de papo até quase às dez horas. O celular não se mexeu. Resolvemos sair e eu o coloquei em posição de destaque dentro da minha bolsa. Já lá fora, o ar fresco da noite me deixou mais confortável. Minha pele estava quente, mas não chegava a incomodar. A noite tinha tudo para ser legal, senão fosse o fato de eu ter sido abandonada pelo Nando. Tive vontade de chorar, enquanto passeava pelo centro com as meninas. Meus olhos perscrutavam todos os rapazes e todos tinham o rosto dele. Nenhum era meu primo.

Rafaela já deveria ter contado para as outras das minhas peripécias e da minha dor e era nítido o esforço de todas para me agradar. Mas minha cara de tristeza destoava da alegria geral, daquele clima de verão e de praia que todas as pessoas que caminhavam pelo centro demonstravam. Senti o cheirinho da maresia quando paramos para ver um grupo de músicos amadores que tocavam em uma esquina. Fiquei um pouco afastada delas, indiferente para o som que eles tocavam. Meu mundo, naquele momento, era outro.

Escutei um celular tocando.

Fiquei em silêncio, quieta, meditando. O celular tocou até morrer e ninguém atendeu. Devia haver algum surdo ao meu redor.

O som do toque do celular recomeçou. Desta vez eu estava mais atenta. O toque era igual ao meu... Será que era o meu celular que tocava? Acho que não.

Abri a bolsa, meio atrapalhada. Aqueles malditos músicos tinham feito com que eu não percebesse que era o meu aparelho que vibrava, ensandecido. Com as mãos tremendo, olhei para o visor e não reconheci o número. Ai, meu Deus…

− Alô?

Minha voz saiu estranha. Puro medo. E se não fosse ele?

− Pensei que você não fosse me atender.

Quase gritei de felicidade, mas tentei me manter. O Nando poderia estar por perto e eu não queria que ele testemunhasse minha expressão de êxtase.

− Tem uma música tocando aqui onde estou – expliquei tentando deixar a voz firme.
− Eu sei.
− Sabe como? Está conseguindo escutar? – Minhas pernas eram feitas de bambu.
− Claro. Estou aqui também.

Felizmente as meninas estavam tão absorvidas com os músicos que haviam me esquecido. Dei uma volta em torno de mim mesma tentando encontrá−lo. Nem sinal.

− Onde? Não enxergo você.
− Estou pertinho.

Eu ri. Nossa, como eu estava contente.

− Onde? Quer parar de brincar comigo?

Percebi que uma mão me acenava a alguns metros de distância. Algumas pessoas o encobriam, mas o Nando estava lá. Esqueci-me da Rafa e das outras. Esqueci de tudo, claro. Minhas pernas trêmulas me levaram de alguma forma até ele. Fui dando encontrões nas pessoas, na ânsia de chegar mais rápido. O Nando veio ao meu encontro, trazendo no rosto aquele sorriso encantador. Meu Deus.

− O sol foi inclemente com você – disse ele quando chegou mais próximo de mim.

E eu não quis nem saber. Fui direto me pendurando no pescoço do Nando para beijá−lo. Ainda bem que ele retribuiu.

− Você está com alguém?
− Com você – disse eu depois do beijo que me deixou ofegante.

Acho que era isto que ele queria ouvir. Pegando a minha mão, o Nando perguntou:

− Vamos sair daqui? Quer ir para um lugar mais calmo?
− Quero.

Não precisava nem perguntar. Aonde quer que ele fosse, eu iria junto. Simples assim.


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