− Posso
perguntar uma coisa para você? Tem que jurar que não vai ficar zangada comigo.
Encarei−o
ligeiramente tensa. O que viria pela frente agora?
− Não
vou ficar zangada. Acho.
−
Esqueci seu nome.
Meu
nome. De novo meu nome. Respondi de uma vez só:
−
Pauline.
−
Pauline… − repetiu ele como se escarafunchasse na memória de onde tinha
escutado esta alcunha.
− O que
foi? – eu mal podia disfarçar minha angústia, quase me engasgando com a água.
− Seu
nome. Não é comum.
Fui
ficando pálida.
− Tive
uma parente com seu nome – ele revelou.
Quase
emborquei a garrafa inteira de água. Minhas pernas ficaram bambas.
− Que
coincidência... Teve? Quer dizer que não tem mais? Ela morreu?
Ele
continuou bebendo água como se não desse mais importância ao tema.
− Não
sei. É uma parente distante. Não sei se está morta ou viva. Tanto faz.
Cruzes,
eu tanto fazia. Bem, pelo menos eu não havia sido reconhecida. Ufa!
− Vamos
tomar um banho de mar?
A
pergunta me pegou de surpresa. Olhei para ele, em meio a um pânico crescente.
Mar. Eu sempre tive medo de mar. As ondas jamais tinham passado dos meus
joelhos e agora o Fernando queria entrar no mar. Meus pesadelos mais frequentes
eram todos relacionados ao mar. Cansei de sonhar que estava me afogando.
− Vamos
– eu respondi quase vomitando. – Eu adoro o mar.
Larguei
a garrafa na areia e tomei à dianteira. Fui caminhando a passadas largas em
direção à água fingindo ser a mais experiente nadadora do mundo. A terra
começou a girar no exato momento em que o Nando pegou a minha mão. Eu podia ter
me acalmado com o toque dos dedos dele, mas isso não aconteceu. Respirei fundo
quando as ondas molharam meus pés. Ele foi me puxando e de repente a água já
batia na minha cintura. Eu estava prestes a desmaiar.
−
Nando, espera – pedi eu. Neste instante uma onda mais forte me cobriu por
inteira.
Achei
que fosse cair, porém ele me segurou no seu colo. Que romântico. Fui obrigada a
confessar, totalmente branca e trêmula:
− Não
sei nadar. Tenho pânico do mar.
− Quer
voltar? – perguntou ele rindo.
− Não –
respondi agarrada nele. Não poderia perder o homem da minha vida por causa de
um pânico besta.
− Então
vamos.
E lá
fui eu, segura pela cintura, cada vez mais branca. Eu me agarrei no Nando com
todas as minhas forças, de puro medo. Minha voz trancou na garganta, eu não
conseguia nem abrir a boca para pedir socorro.
− Meus
pés não estão encostando no chão.
Foi
mais ou menos isto que eu falei. Não sei se ele escutou alguma coisa. As ondas
vinhas fortes e me cobriam inteira. Eu sentia o gosto do sal na minha língua,
meus olhos já nem abriam mais com medo de enxergar a próxima gigantesca onda.
Então o
Nando parou, graças a Deus. Eu continuava pendurada nele, agora com a cabeça
enterrada no seu peito. Se fosse em outra situação, eu estaria adorando aquele
contato físico. Porém, em meio a um estado de pânico, eu mal podia sentir os
braços dele em volta de mim.
− Abra
os olhos, Pauline – riu ele. – Não vou deixar o mar levar você.
Foi a
primeira vez que ele me chamou pelo nome e também foi só por causa disto que
abri os olhos bem devagar. Além do mais, ele proferiu aquela frase tão
carinhosamente que foi ali, em meio ao oceano, que me apaixonei pelo meu primo
em definitivo.
− Você
é muito gentil.
Veio
uma onda e nos cobriu de novo. Desta vez engoli mais água e então, antes que eu
morresse nos seus braços, o Nando me arrastou para uma parte em que eu ao menos
tocava o dedão do pé no fundo.
− E
então? – perguntou ele sorrindo. – Vai dizer que esta não é uma das suas
melhores experiências?
Olhei
bem fundo nos olhos dele. Imaginei o que meu primo diria se soubesse tudo o que
estava se passando pela minha cabeça. Sim, aquela era a melhor experiência da
minha vida. Estar com o Nando era quase como um sonho. E estar junto a ele,
grudada nele... Puxa, eu nunca tinha sentido aquilo com cara nenhum. Não que eu
tivesse namorado muitos. É que em todos os outros eu sempre visualizei o
Fernando. Ninguém era tão lindo ou tão esperto ou tão inteligente como aquele
amor que eu criei na minha imaginação. Eu estava com o Nando há poucas horas.
Eu sabia que não existiam homens perfeitos. Tentei procurar algum defeito nele,
mas ainda não tinha encontrado nenhum. Mas ele podia ter todos. Não me
importava.
− É
sim. E se você me soltar, pode ser a minha última experiência também.
E o que
aconteceu em seguida foi algo mágico. Ele me beijou! Não precisou que eu me
atirasse em cima dele feito uma gata no cio. O Nando me beijou porque quis. E
não estava mais nem um pouco bêbado.
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