terça-feira, 29 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 23)



As aulas começaram e eu levantei as mãos para o céu. Assim pelo menos eu não pensaria tanto nele. Mas me enganei. Meus pensamentos iam somente ao encontro do Nando. Era só no meu primo que eu pensava.
Para piorar eu não saía da frente do computador, tentando descobrir alguma coisa da festa do domingo. Nenhuma foto no Facebook do Nando havia sido postada. Em compensação, eu invadi o Facebook dos amigos dele e ali sim estavam todos os registros do que deveria ter sido uma festa de arromba. Me mordi de raiva. Não apenas amigos haviam sido convidados, como amigas também. Muitas, para o meu gosto. Todas pareciam ter saído da mesma forma, com o mesmo tipo de cabelo, roupa, sapatos... O mesmo sorriso forçado, afetado. Tudo igual. Em algumas fotos Nando aparecia com o braço por sobre o ombro de algumas delas. Em outras ele era o único homem rodeado por um monte de garotas, ávidas para chamarem a atenção do cara mais bonito da festa. E nada de ele me ligar. Comecei a achar que a Rafa estivesse com razão. Eu deveria ter transado com ele. Com quantas Nando já teria ficado desde aquele dia? Que droga!
E para completar minhas aulas estavam um terror. Nada me interessava. Tentei confessar para a Rafa que eu estava com vontade de trocar de curso, mas minha irmã estava tão obcecada pelo namorado que nem me deu bola. E eu me sentia mais e mais sozinha. Do Nando, nem um sinal. Nem celular, nem mensagem, nem coisa nenhuma. Minha vida estava um saco e eu tinha vontade de sumir, principalmente depois de ter visto as fotos no Facebook. Na minha mente delirante, o Nando estava saindo com todas aquelas meninas da festa. Afinal eles eram todos da mesma classe social. Eu não.
Minha quarta-feira tinha tudo para ser um fracasso total. Já no primeiro período eu consegui discutir com o professor por um motivo imbecil, o que me fez pegar minha bolsa e sair da sala de aula pisando duro, sob o olhar de trinta pessoas. Saí apressada pelos corredores da faculdade, pensando em ir para casa, tomar um banho e me enfiar na cama. Eu tinha um bolo formado na minha garganta e que nada tinha a ver com os meus problemas acadêmicos. A única coisa que eu desejava era me enfiar debaixo do chuveiro e chorar toda a minha frustração pelo fato de o Nando não ter me ligado depois daquele sábado maravilhoso. Infelizmente maravilhoso apenas para mim.
Decidi ir caminhando até em casa para aliviar a tensão. Porém, mesmo assim, minha tristeza não ía embora. E eu sabia que não iria tão cedo. Durante o trajeto deixei algumas lágrimas rolarem. Foi inevitável e nem fiz questão de secar.
Eu estava tão distraída, tão perdida na minha melancolia, que não percebi que um carro vinha acompanhando meus passos por alguns metros. Somente olhando para frente – e sem enxergar nada a não ser meus pensamentos tristes – levei um enorme susto quando uma buzina pareceu soar dentro da minha cabeça.
Eu cheguei a parar apavorada. A impressão que tive era que estava a ponto de ser atropelada pela caminhonete preta que estava estacionando ao meu lado. A porta se abriu de repente e eu imaginei que se tratava de um sequestro relâmpago. Fiquei paralisada pelo terror. Então, antes de qualquer coisa, escutei uma voz que me encheu de satisfação:
- Ei, entre aí! Não vou sequestrar você. A menos que você queira isto.
Bom, era isto o que eu queria desde sempre, quase disse enquanto entrava no carro do Nando explodindo de felicidade.
- Que surpresa – eu consegui falar, tentando disfarçar os meus tremores pelo susto que acabara de tomar.
Ele se inclinou e me beijou na boca. Depois sorriu e disse:
- Eu ía ligar para você, mas achei que estivesse na aula. De repente vi você caminhando na calçada... Você estava com os pensamentos longe.
Eu não conseguia parar de sorrir feito uma idiota. Era bom demais estar ali com o Nando.
- Saí um pouco mais cedo da aula – eu respondi, evitando contar o motivo que havia me levado a isto.
- Você tem alguma coisa para fazer agora?
Nossa, como eu esperava que ele perguntasse algo do tipo.
- Absolutamente nada.
- Vamos dar uma volta?


sexta-feira, 25 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 22)


Abri a porta do apartamento e me deparei com Rafa e Guto sentados à mesa, lanchando. Mal minha irmã olhou para mim e exclamou:
- Pela cara já vi que as coisas não saíram tão bem!
Larguei a mochila e me juntei aos dois. Desanimada, murmurei:
- Foi tudo ótimo, acreditem.
Guto e Rafaela se entreolharam, sem acreditarem na veracidade das minhas palavras. Meu cunhado comentou:
- Não é o que parece.
- O final que estragou tudo – revelei pegando um pedaço de pão e mastigando sem vontade nenhuma – Para mim estava tudo perfeito, mas acho que para ele não.
Guto pediu, calmamente:
- Por que você não conta para gente o que aconteceu? Talvez não seja exatamente assim como você está pensando.
Comecei a narrar a viagem desde o início, do atraso na chegada até a despedida lá embaixo. Os dois escutaram com o máximo de atenção e silêncio até eu terminar a última frase. Como era de se esperar, Rafaela me xingou.
- Eu não quero acreditar que você recusou a fazer sexo com o cara que está apaixonada.
Encarei-a surpresa.
- E o que você queria que eu fizesse?
- Que transasse com ele, ora essa.
- Ah é? – eu explodi enfezada – Para depois ele achar que eu vou para cama com o primeiro que aparece na minha frente?
Guto disse:
- Talvez nem achasse isso. Um homem sabe diferenciar uma mulher da outra.
- Bem, mas talvez o Nando não saiba diferenciar – eu retruquei quase fazendo beicinho – E eu fiquei morrendo de vontade.
- Bem feito – A Rafa era simplesmente implacável – É o que dá bancar a santinha. Era melhor que você tivesse transado com ele. E se ele procurar outra para se satisfazer?
Senti vontade de chorar de novo, mas me controlei. Guto olhou para Rafaela e pediu, com aquele seu jeito calmo:
- Pega leve, benzinho.
- Você sabe que as coisas são assim, Guto. É a lei da selva.
Olhei para meu cunhado ligeiramente desesperada e perguntei:
- Você acha que ele pode me ligar de novo?
- Claro que sim. É início de relacionamento. Dê tempo ao tempo. E o que é mais importante: não sufoque o cara.
- Mas eu não estou sufocando-o – me defendi.
- Ótimo. Continue assim.
Dando o assunto por encerrado, levantei da mesa e resolvi ir tomar um bom banho. Porém, minha camiseta eu não quis lavar. O perfume do Nando estava entranhado nela.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 21)


Já estávamos próximos do meu prédio e comecei a me preocupar com o fato de a minha irmã estar à vista. Era quase noite e eu sentia um bem estar enorme. O meu dia tinha sido maravilhoso e me perguntava o que ele estaria planejando para o domingo.
Descobri no minuto seguinte assim que Nando estacionou, para meu terror, a caminhonete bem debaixo da minha janela.
- Amanhã vou passar o dia na chácara de um amigo meu.
Eu fiquei muda a principio. Tinha plena certeza de que passaríamos o dia inteiro juntos. Quando consegui me articular, balbuciei:
- Ah, é?
Era nítido que ele estava me dando algum tipo de satisfação. Mas eu não queria satisfação alguma. Só queria ficar o dia inteiro com ele. Só isso.
- Havíamos marcado já há algum tempo.
Será que vai ter mulher?, me perguntei, angustiada. No entanto eu não tinha direito algum de cobrar nada apenas porque havíamos passado um dia maravilhoso juntos. Quer dizer, tinha sido maravilhoso para mim. Se tivesse sido bom para o Nando, ele bem que podia ter desmarcado o encontro com seus amigos para ficar comigo.
Droga.
- Certo – respondi, tentando disfarçar que estava tudo ótimo. Fui pegando a bolsa, olhei para ele e disse – Bom, acho que vou subir. Pode ser perigoso você ficar com a caminhonete parada aqui.
Ele então se inclinou e me beijou. E foi um beijo tão doce que lágrimas vieram aos meus olhos. Esperei sinceramente que ele não tivesse reparado.
- Adorei cada momento, Nando.
Foi a única coisa que consegui dizer. Achei que ele fosse responder algo parecido, mas não. Ele acariciou meu rosto e murmurou:
- Eu ligo para você.
- Está certo.
Dei mais um beijo rápido nos lábios dele e entrei no meu prédio. Pelo menos ele esperou que eu fechasse o portão gradeado para arrancar o carro. Dentro do elevador eu me perguntei se devia estar triste ou alegre. Afinal, o dia todo havia sido um encanto só. E depois… puxa, a única coisa que ele havia dito era que me ligaria. Não havia sido legal para o Nando também? Seria por que eu não tinha transado com ele?

sábado, 19 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 20)


- Está gostando da viagem?
Nem acreditei que o Nando mudara de assunto.
- Claro. Está tudo perfeito, Nando.
Então ele parou a caminhonete na beira da estrada. Não vinha uma vivalma de lado algum. Depois de um beijo que me deixou sem fôlego, veio a pergunta que, por algum motivo, achei que ele não faria tão cedo:
- Tem um hotel aqui pertinho... Vamos para lá agora.
Gelei. Endireitei-me no banco, afastando-me um pouco dele. É claro que eu queria e muito transar. Mas não tão rápido. O que o Nando poderia pensar de mim se eu fosse para a cama com ele logo na primeira oportunidade?
- O que foi? Falei alguma coisa que você não gostou? −Ele me encarou, certamente achando estranho meu comportamento virginal.
- Eu…
- Escute, assustei você?
- Não.
Mas eu estava um pouco assustada sim. Na verdade temerosa em não conseguir agradá-lo caso a gente transasse.
- Ei, eu só queria ficar mais à vontade com você – esclareceu Nando, escolhendo bem as palavras. Parecia até mesmo que ele estava conversando com uma babaca – Se você não quer…
- Não é que eu não queira – expliquei, meio gaguejando – É que… é que eu…
- Você nunca transou? É isto que você quer me dizer?
Claro que eu já havia transado. Tive até vontade de rir. Mas minhas experiências sexuais nunca foram das melhores. Às vezes eu nem sabia por que estava transando. Acho que era só para dizer que eu fazia sexo de vez em quando como tudo mundo dizia que fazia. Afinal, eu não queria ser a única garota do mundo que não transava.
- Já transei, sim. Não tanto quanto você, é claro.
Ele riu.
- Então por que não quer transar comigo? Está com medo de mim?
- Medo de você? Nem um pouco.
Mas meus olhos arregalados estavam me traindo. Medo de não agradar, de me envolver mais ainda, percorrendo um caminho que já era sem volta.
- Você está com medo. Vejo isto nos seus olhos, na sua expressão – e dando um beijo no meu pescoço que me deixou toda arrepiada, ele sussurrou – A única coisa que eu queria era ficar mais tempo junto de você.
Quase cedi. Fechei os olhos com força, tentando resistir àquela tentação enorme. Mas eu não podia, não era aquele o momento para eu me entregar. Precisava ser mais forte, pelo menos daquela vez.
- Eu também… mas eu não posso. Não posso…
Com algum esforço, ele se desgrudou de mim e ligou o motor da caminhonete. Dando um suspiro, Nando disse:
- Está bem. Você é quem sabe.
Ele seguiu dirigindo em silêncio por uns dez minutos. Pronto, estraguei tudo.
- Nando…
- Humm…
- Você está zangado comigo?
Minha voz saiu meio chorosa. Meu primo me olhou e respondeu:
- Claro que não.
- Mas você não está falando comigo.
- Eu só respeitei sua decisão.
- Mas você não está falando comigo.
- Fiquei decepcionado, apenas isto. Não estou zangado com você.
Dizendo isto, ele segurou minha mão e a beijou. Tive vontade de chorar.
- Nando, você é muito especial para mim.
Ele me olhou e não disse nada. Fui em frente:
- Não me confunda com outros tipos de mulheres.
- Eu jamais faria isto.
- Mas antes que faça… não sou como as outras.
- Se você fosse igual às outras eu não estaria com você agora.
E com o braço ele me puxou ao encontro do seu peito e ficou dirigindo com apenas uma mão. Ficamos um tempão assim, percorrendo a estrada estava vazia. Não houve mais necessidade de palavras.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 19)


- Pois bem. Pergunte-me o que você deseja saber sobre mim.
- Quero saber onde seus pais moram. Não sei de onde você veio.
- Eles moram em uma cidadezinha chamada Vila Real – respondi e isto era verdade. Mentir a minha origem poderia me complicar futuramente. Isto é, se houvesse algum futuro.
- Você nasceu lá?
Pergunta difícil.
- Lá onde?
- Em Vila Real.
Lembrei que deveria manter minha carteira de identidade longe dele. Se ele soubesse o nome dos meus pais e o lugar que nasci, a porcaria estava feita.
- Não, nasci na cidade ao lado – menti descaradamente – Em Vila Real não havia maternidade na época.
- E o que seu pai faz lá? Já está aposentado?
Cruzes. O cerco se apertava.
- Ele tem um armazém.
Verdade. Prossegui:
- Trabalha porque quer agora. Ele se aposentou há pouco tempo.
- E sua mãe?
- Minha mãe?
Lembrei que minha mãe, quando éramos ricos, era uma dondoca. Vivia em salões de beleza, era uma mulher muito elegante. Depois da nossa falência, ela ficou tempos deprimida e sua beleza se foi. Ela definhou, deixou os cabelos brancos aparecerem e até achávamos que ela jamais iria recuperar a alegria de viver. Felizmente, quando o armazém do meu pai começou a prosperar, mamãe passou a ajudá-lo. Atualmente ela ía muito bem, voltando quase a sua antiga elegância. Passava o tempo fazendo trabalhos voluntários na igreja, atendendo no armazém e se dedicando a trabalhos manuais.
Tudo isso passou pela minha cabeça como um filme. Lembrei que o pai do Nando tinha sido o responsável por todo nosso sofrimento. Eu tinha a obrigação de odiar o meu primo, mas estava se passando justamente o oposto.
- Algum problema com sua mãe?
Lógico que ele havia percebido a minha demora em responder. Engoli em seco e respondi:
- Não. É que… houve um tempo em que ela não esteve muito bem.
Esperei que ele parasse com aquelas perguntas.
- O que era? Ela ficou doente?
- Depressão – disse eu rapidamente – Mas agora ela está bem. Ela ajuda meu pai e tem muitas atividades em Vila Real.
- Ah, isto é muito importante – retrucou Nando, encarando-me – Manter a cabeça ocupada é a melhor coisa para afastar pensamentos negativos.
- É verdade – concordei ansiosa para acabar com aquele assunto – Nem me preocupo com ela agora.
- E eles nunca vêm visitar você e sua irmã?
- Pouco, por causa do armazém.
- Você deve sentir a falta deles…
Ele fez aquele comentário e ficou esperando uma resposta minha que custou a vir. Eu estava apavorada com o rumo daquela conversa. E se o Nando resolvesse perguntar o nome dos meus pais?
- Eu sinto. Mas procuro nem pensar muito.
- E sua irmã?
Gelei. Rafaela. Não era um nome muito comum. Era certo que ele associaria Rafaela e Pauline às suas primas desaparecidas no tempo e no espaço. Meu Deus! Felizmente lembrei que o primeiro nome da minha irmã era Ana, só que ninguém a chamava pelo nome composto. Nem mesmo meus pais. Acho que eles havia até esquecido que a filha mais velha se chamava Ana Rafaela.
- Ela é mais velha que eu – eu esclareci. Puxa, por que ele não parava com aquele interrogatório?
- Eu sei. Vocês se dão bem?
- Sim. Ela estuda Design também e estávamos pensando em trabalhar juntas. Minha irmã nem sonha que eu penso em largar tudo. Meus pais teriam um troço.
Minha esperança é que o assunto se desviasse para meus planos futuros. Mas não.
- Como é o nome dela?
- Dela quem? – eu precisava ganhar tempo.
- Da sua irmã.
- Ana.
- Ana?
- Sim – e voltei meu olhar para frente, fazendo de conta que eu apreciava a paisagem, embora eu não conseguisse visualizar coisa nenhuma.
- É um nome simples, ao contrário de Pauline.
Meus pais e Rafa somente me chamavam de Paulinha. Os pais de Nando também me chamavam assim há milhões de anos. O motivo? Quando criança era tão magrinha que parecia desnutrida. Poucos me chamavam de Pauline. Nando era uma destas pessoas.
- Realmente minha mãe estava inspirada quando escolheu meu nome.
Outro momento de terror. Ele poderia lembrar que tinha uma prima da minha idade e com o mesmo nome.


domingo, 13 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 18)


Quase que engasguei com o último pedacinho de chocolate. O que viria a seguir me perguntei, quase em pânico. Será que ele teria desconfiado de alguma coisa?
- Moram. Moram, sim.
Rezei para que algum celular tocasse para desviar o assunto para outro lado. Mas nada aconteceu.
- E você vai visitá-los com frequência?
- Não muito – confessei, tentando disfarçar minhas mãos que começaram a tremer – É que nem sempre tenho grana para ir lá.
- Onde eles moram? Qual é a cidade?
Respirei fundo e olhei para ele, tensa. Não respondi de imediato.
- O que foi? – perguntou o Nando.
- Nada. Só fiquei surpresa com seu interesse, apenas isto.
Quanta mentira. E se nosso relacionamento prosseguisse este era apenas o começo.
- Não precisa ficar surpresa – sorriu ele – Só estou curioso para saber um pouco mais sobre você.
Eu sorri amarelo e cruzei os braços. Para mim pareceu a melhor maneira de disfarçar o tremor que eu estava.
- Bem... o que você quer saber?
Tentei agir normal, mas não deu. Meus olhos deveriam estar mostrando toda a minha agonia, porque o Nando me olhou de um jeito estranho, com o canto dos olhos para não perder a atenção da estrada.
- Quer saber de uma coisa? – ele perguntou.
- Não.
- Não quer saber?
Ao mesmo tempo em que o Nando demonstrava achar aquela situação esquisita, ele também parecia estar se divertindo.
- Claro que quero. Estou brincando com você.
Não estava não. O desconforto com aquele diálogo estava cada vez pior.
- Você é muito misteriosa.
Eu dei uma risada falsa, porém convincente. Fingi que achei bastante engraçada aquela colocação dele, enquanto meu coração disparava dentro do peito cada vez mais.
- Eu? Nando, você não pode estar falando sério.
- Estou falando muito sério.
A voz dele saiu mais firme desta vez e eu gelei. Meu sorriso também congelou. Eu  avançava por um terreno perigoso. Estava na hora de começar a mentir mesmo.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 17)


Apesar da minha noite mal dormida, acordei tão disposta e contente que parecia que tinha dormido por doze horas seguidas. Eu já tinha deixado minha bolsa pronta, então foi só tomar um banho, beber um suco de frutas e me perfumar. Dez minutos antes da hora combinada, eu já estava plantada na frente do prédio, sentindo um friozinho na barriga. Lembrei que precisava cuidar tudo o que dizia respeito as minhas origens. Se eu desse um furo que fosse, tudo iria por água abaixo.
Para minha angústia, o Nando se atrasou. À medida que os minutos passavam – ou corriam – um bolo se formava na minha garganta. Será que ele havia se arrependido de ter me convidado? Minha felicidade se esvaía aos poucos. Tinha sido bom demais para ser verdade. Eu estava me sentindo uma palhaça, com uma vontade enorme de chorar, quando uma buzina me arrancou dos meus devaneios dando-me um susto. Uma caminhonete preta tinha parado rente à calçada e o motorista tinha aberto a porta. O motorista era o Nando. Graças a Deus.
- Ei, Pauline!
Eu praticamente me joguei dentro do carro com medo que ele fosse embora. Já comodamente sentada – e feliz novamente – olhei para o Nando, cheia de amor. Era a primeira vez que a gente se via desde a praia. E ele estava mais lindo ainda.
- Tive que calibrar os pneus e me atrasei no posto de gasolina – explicou ele, sorrindo para mim – Você ficou esperando muito tempo?
- Não – e senti que meu nariz cresceu mais do que o Pinóquio – Só achei que você tinha desistido.
- Imagine. Desculpe por fazer você me esperar.
E então ele se inclinou para me beijar, enquanto aguardava a sinaleira abrir. Foi um beijo rápido, mas o bastante para sentir que havia algum envolvimento também da parte dele.
A partir daí, tudo foi perfeito. Tudo. Sempre que ele podia, ficava com a mão sobre a minha. Em dado momento, dei-me conta que eu estava sentada de lado para poder ficar admirando o Nando, ignorando a linda paisagem da serra. Propositadamente não perguntei nada sobre a Raquel. E nem tive coragem também. Meu primo também nada mencionou. Para quê falar sobre assuntos desagradáveis se tudo estava tão bom?
Chegamos à cidade onde ele teria que buscar a encomenda perto das onze e meia da manhã. Depois disto, já dentro do carro, o Nando olhou para mim e declarou:
- Bem, agora temos o dia todo só para nós.
De novo o friozinho na barriga. Não me contive. Envolvi meus braços ao redor do pescoço dele e nos beijamos por longos minutos. Esqueci o mundo, nosso parentesco, absolutamente tudo.
Almoçamos em um restaurante bem aconchegante na saída da cidade. Nem consegui comer muito. Geralmente, quando fico nervosa, a comida não passa pela minha garganta. E, apesar de tudo estar às mil maravilhas, eu me sentia tensa. Depois do almoço, o Nando resolveu passar em uma loja de chocolate caseiro. A mãe dele – e minha tia também – era chocólatra e tinha lhe pedido que levasse caixas e caixas para ela. Na minha memória acabei encontrando lembranças de vê-la devorar bombons, vários de uma vez só. Também ganhei chocolates e não pude esperar. Acabei devorando um dentro da caminhonete mesmo, enquanto saíamos da cidade.
Tudo ía muito bem. O Nando, para me agradar, resolveu pegar um caminho mais longo, por uma estrada secundária, para voltarmos para casa. Então veio a pergunta:
- Onde moram seus pais? Você disse que era no interior, não disse?



domingo, 6 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 16)


Foi um “alô” tão desesperado que o meu primo chegou a ficar mudo nos primeiros instantes, surpreso.
- Pauline… é você?
- Sou. Sou eu, sim.
Eu mal tinha ar dentro dos pulmões. Precisei sentar no sofá para me recuperar.
- O que houve com a sua voz?
- Nada. É que eu estava longe e mal ouvi o telefone tocar. Tive que vir correndo – menti.
- Está bem, então – respondeu ele, não muito satisfeito com a minha resposta – Como você está?
- Muito bem – meu ar ainda faltava, o que me obrigava a fazer certo esforço para falar, sem contar com meu coração galopante dentro do peito – E você?
- Tudo bem, também.
Não percebi muita convicção na resposta dele, que prosseguiu:
- Se não sou eu a ligar para você...
- Como assim?
- Você não me ligaria nunca.
Até fiquei chocada com o que ele dissera. Então o Nando queria que eu ligasse para ele? Ué...
- Mas Nando… é claro que eu tenho vontade de ligar para você. Porém, o que aconteceria se eu fizesse isso e sua noiva estivesse junto? Já pensou na confusão que eu iria armar sem querer?
- Não, não. Não se preocupe mais com essas coisas.
A voz dele ficou estranha e eu, curiosa. Perguntei.
- Não entendi. O que houve?
- Rompi meu noivado – contou ele com a voz cansada – Terminei tudo com a Raquel.
Felicidade total. Só não saí saltitando pela sala porque não queria largar o celular naquele momento tão crucial.
- Você… você rompeu seu noivado?
- Sim.
- Quando?
- Há dois dias. Foi horrível. Ela não aceitou, nossas famílias acabaram se envolvendo… enfim, não está sendo fácil. A Raquel me liga a toda hora.
- E o que você faz?
- Não atendo o celular. É simples assim.
- Puxa – disse eu, tentando conter minha empolgação – Que situação bem chata...
- Demais.
Então de repente ele perguntou:
- O que você vai fazer amanhã?
Cheguei a levar um susto e empalideci. A Rafa estava por perto e percebeu minha transformação.
- Eu? Não sei, eu…
- Tenho que buscar uma encomenda na serra. Quer vir comigo?
Minhas pernas ficaram bambas. Finalmente um convite. Olhei para a Rafaela que estendeu um papel e uma caneta para que eu escrevesse o que estava acontecendo. Como eu não respondi logo, o Nando insistiu:
- Pauline, você está aí?
- Claro, estou sim. É que… seu convite me pegou de surpresa.
Aos garranchos, escrevi para Rafa a novidade e ela sussurrou:
- Aceita, aceita!
- Então? Quer vir comigo? Ou você enjoa na estrada?
- Não enjoo coisa nenhuma – respondi eu, antes que ele se arrependesse de ter me convidado – Eu quero ir, sim.
Nossa, eu estava muito emocionada.
- Legal. Me dê seu endereço e eu passo aí para buscar você. Às nove horas da manhã está bom?
Meu endereço... Eu não gostaria que ele soubesse onde eu morava. Pelo menos o risco de que ele e Rafaela se vissem era nulo, já que minha irmã iria para a casa do Guto, sem ter hora – e nem dia – para voltar.
Passei meu endereço, combinamos mais alguns detalhes e nos despedimos. Quando desliguei o celular, olhei para a Rafa e murmurei:
- Cruzes, nem acredito.
- Paulinha! Você precisa ver a sua cara!
- Devo estar com uma expressão de felicidade total.
Minha irmã sentou ao meu lado e disse:
- Olha, amanhã será o grande teste. Vocês vão passar um tempão juntos. É diferente do que ficar se curtindo na praia, entendeu? Se tudo correr bem, acho que o relacionamento pode deslanchar.
- Você acha?
- Claro. Tente ser carismática, faça com que ele ria, não deixe o assunto acabar…
- Mas isto eu já faço. Estou sempre fazendo o Nando rir.
- Melhor ainda. E ele lhe considera uma boa companhia, senão não convidaria você para fazer uma viagem, mesmo que curtinha.
- Você acha? – repeti.
- Claro! Imagina passar horas viajando com uma pessoa que mal se conhece ainda?
A Rafa se levantou e disse:
- Bem, já dei todos os conselhos possíveis. O resto é com você. Já estou atrasada.
Ela pegou a bolsa, me deu um beijo e antes de abrir a porta, avisou:
- Quero saber tudo, hein? Em todos os detalhes. Até os sórdidos.
- Conta pro Guto – eu pedi – Quem sabe ele tem mais alguma visão…
Minha irmã riu, atirou um beijo e foi embora. E a partir desse momento eu nunca mais tive paz.



quinta-feira, 3 de maio de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 15)


Outra semana se iniciou e desta vez meu estado de espírito estava diferente. Eu exalava bom humor graças ao telefonema do Nando no sábado passado. Até mesmo a Rafa já queria mudar de opinião sobre o nosso não iniciado relacionamento. E mesmo que eu não quisesse criar nenhuma expectativa, isso era praticamente impossível. Puxa, o Nando tinha me ligado! Se ele não quisesse nada comigo simplesmente teria jogado o número do meu celular no lixo. Eu estava muito feliz, muito mesmo. Mas ainda era cedo. Ele não iria largar tudo somente para ficar comigo, pelo menos por enquanto.
Mas à medida que os dias avançavam e o meu celular não se mexia, a minha tensão aumentava consideravelmente. A esperança do inicio da semana logo se transformou novamente em um terrível inferno astral na sexta-feira. Silêncio da parte dele, nada de novo no Facebook. Eu tinha vontade de ligar para o Nando para perguntar somente como ele estava da gripe, mas não tinha coragem. E se ele achasse que fosse uma invasão minha? E se a noiva estivesse por perto?
Portanto, não fiz coisa alguma, senão sofrer, o que já era hábito meu. Até mesmo a Rafa, na sexta-feira, enquanto se arrumava para ir no Guto, deu seu parecer:
- Ele é imprevisível.
Cheguei a levar um susto quando a Rafaela disse aquilo. Eu estava quieta, atirada na cama, observando-a se vestir. Não esperava que minha irmã fosse comentar qualquer coisa sobre mim e o Nando.
- O quê? – perguntei, sentando-me na cama surpresa.
- Você entendeu – ela continuou, encarando-me pelo espelho – Pensa que desconheço o motivo pelo qual você está com esta cara de bunda? O motivo se chama Fernando. Ele não ligou e você está desesperada.
- Ah, pare com isto, Rafaela – eu pedi desconcertada.
- Não tente me enganar, Paulinha – ela continuou implacável – Eu também ficaria assim se eu namorasse alguém difícil como o Fernando. Mas ele sempre acaba ligando, não é mesmo? Quando você menos espera, seu celular começa a gritar e pronto! É o tal do Fernando. Acalme-se. Ele vai ligar.
- Estou cansada de esperar.
Levantei da cama e peguei minha mochila. Fui colocando algumas roupas ali dentro, ante o olhar perplexo da minha irmã.
- O que você está fazendo? Vai fugir?
- De uma certa forma, sim – respondi angustiada – Não vou passar mais um fim de semana sozinha. Vou para a casa dos nossos pais. Ficar aqui esperando que o Nando me ligue não deixa de ser uma espécie de suicídio.
- Quanta precipitação – repreendeu-me a Rafa – E se ele ligar para você? Vai vir correndo estando a 150 quilômetros de distância?
- Acho que não devo me preocupar com isto.
Neste momento meu celular tocou lá na sala. Eu e Rafa nos entreolhamos, expectantes. Eu balbuciei:
- Será… será…
- Corre lá e atende, sua boba!
Saí em disparada até a sala, derrubando um cabide e uma cadeira no meio do caminho. Segurei o telefone e no visor constava o número do Nando me chamando. Não deu nem tempo de recuperar o fôlego.
- Alô!