sábado, 30 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 32)


Ficamos em um quarto no segundo piso, com uma janela que tinha uma bela vista para o mar. Se fosse pela vontade das três vacas eu ficaria na garagem. Larguei as minhas duas mochilas no chão e fui direto para a janela, empunhando a máquina fotográfica. Eu me sentia bem chateada com a recepção dos amigos do Nando, porém não queria estragar todo meu carnaval por causa deles. Disfarcei, falando com a voz bem animada:
- Nossa, que vista encantadora! Jamais me cansarei de ficar aqui, admirando o mar. Lá no sul não temos um mar tão azul.
            Enquadrei a câmera, mas antes que eu conseguisse capturar a imagem, meu agora namorado veio por trás e me abraçou, beijando-me no pescoço. Fiquei toda arrepiada, esquecendo o que havia se passado lá embaixo.
- Não dê bola para as meninas. Elas ainda não superaram que eu e Raquel terminamos o noivado.
- Elas… são amigas da outra? – perguntei cautelosamente.
- Sim.
Então estava explicado. Amigas da ex-noiva do Nando. Estava eu entre inimigas. Tive vontade de ligar para minha irmã e contar tudo. Rafaela era muito prática e podia me dar algum conselho. Bem, isto teria que ficar para depois. Naquela noite os amigos do Nando já haviam planejado um churrasco e eu não teria como escapar. Teria que enfrentar todas as feras e eu torcia para que o Nando me protegesse daquelas leoas que estavam sedentas do meu sangue.
Entretanto, o churrasco não foi apenas para o pessoal da casa. Começou, de repente, a chegar muita gente e todos eram conhecidos entre si. Fiquei surpresa com a popularidade do Nando e entre aquelas pessoas reconheci muitos que estavam nos álbuns de fotos do Facebook dele. Fui apresentada como a “nova” namorada do Nando, causando surpresa em muitos. Claramente não fui aceita pelas amigas dele, em compensação alguns dos rapazes vinham conversar comigo na boa, sem problema algum. Foi o que me salvou naquele churrasco. Nem sempre o Nando ficava comigo. Os amigos chamavam e eu não podia ficar sempre grudada nele. Nunca que eu iria ficar bancando a namorada insegura na frente daquela galera toda. Felizmente sozinha eu não cheguei a ficar. Quando ele se afastava, jurando que já voltava, algum dos meninos se encostavam em mim e ficavam de papo comigo. Assim foi a noite toda. Nenhuma das meninas se aproximou ao menos para ver se eu era legal. Sentia-me o próprio ET. Por várias vezes, flagrei algumas delas, em grupinhos, observando-me. No início desviei o olhar. Entretanto, depois de haver tomado duas latinhas de cerveja e sentindo-me mais corajosa, cheguei mesmo a encará-las, desafiadoramente. Eu precisava impor algum respeito, ora bolas. E assim o churrasco foi transcorrendo até que por volta das três horas da manhã, o Nando, ligeiramente bêbado, resolveu que iria subir. Dei graças a Deus. Muitos já haviam ido embora e nós dois subimos as escadas, ambos tontos. No quarto ele foi direto para o chuveiro e eu desabei na cama, extenuada. Previ que meu carnaval inteiro seria daquele jeito, as feras me atacando e eu me defendendo do jeito que podia. Não vi nem quando o Nando voltou. Devo ter caído no sono dois milésimos de segundo depois de ter me atirado no colchão, de roupa e tudo.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 31)


A semana que antecedeu o carnaval foi angustiante. Lembrei das coisas que Rafa havia dito para mim e comecei a prever o pior. Eu mal sabia quem iria para a casa do amigo do Nando. Aliás, nem queria saber. Eu somente esperava que as namoradas deles fossem gentis e simpáticas e não de nariz empinado. Na verdade, todos eles – Nando inclusive – viviam em um mundo totalmente diferente do meu. Pensando bem, eu mal imaginava o que Nando havia visto em mim, uma pessoa tão simples. Bom, talvez fosse isto que o tivesse atraído. Minha simplicidade.
Ou então podia ser que o Nando achasse que eu fosse um alienígena. Um ser completamente diferente da tribo a qual ele fazia parte, uma tribo que eu jamais pertenceria por ser de outro planeta. Quando eu cuidava a vida dele pelo Facebook, tudo parecia ser bem mais fácil. Eu nunca tinha pensado na hipótese de ter que me esconder dos meus tios ou de ter que ocultar o nome da minha irmã. Ou de mentir sobre meus pais. Felizmente as horas que eu passava com o Nando – somente nós dois – eram maravilhosas. Se ele não perguntasse nada da minha família, essas horas eram perfeitas.
Bem, aquela semana passou voando. Quando me dei conta era véspera da nossa viagem e eu mal tinha aprontado minhas coisas. Viajaríamos ainda na sexta-feira. Pedi dispensa do estágio e pegaríamos a estrada pela tarde. Eu torcia para que aquele carnaval fosse o melhor do mundo.
Passei no apartamento do Nando e dali partimos para Floripa. Disfarcei meu nervosismo o tempo todo. Nando me contou que iriam aqueles dois amigos que eu já havia conhecido na praia, com suas respectivas namoradas e mais outro casal. Não me contive e perguntei se todos eram legais. Surpreso, ele respondeu que sim. De qualquer forma, as palavras da Rafa ecoavam na minha mente e meu sexto sentido dizia que as coisas não seriam tão pacíficas assim.
Só fui ficar mais calma quando chegamos a Florianópolis e eu comecei a apreciar a linda paisagem. Tudo me encantava e Nando ria da minha cara de admiração. Mais uma vez ele me prometeu que me levaria para conhecer todas as praias que pudesse, o que seria ótimo. Assim nós dois ficaríamos mais longe dos amigos dele.
Não preciso dizer que fiquei boquiaberta quando paramos na frente da casa do Gilberto. Na hora tive vontade de ligar para a Rafa e dizer que estava diante da casa mais imponente que eu já havia visto. Apesar de ser linda e ter uma vista magnífica para o mar, ela me pareceu fria e distante, assim como as pessoas que eu estava prestes a conhecer. Será que passar o carnaval em um camping não teria mais a ver comigo?
Descobri que realmente um camping seria bem melhor quando conheci as meninas. Só faltava nós chegarmos, portanto todos saíram para nos receber. Aliás, receber o Nando. Eu não passava de uma simples agregada, uma diversãozinha do Nando ou coisa pior. Mas foi na hora das apresentações que tudo desandou de vez. O Nando cumprimentou as garotas com beijinhos e abraços. Depois se voltou para mim e colocou seu braço nos meus ombros. E me apresentou:
- Garotas, esta é a Pauline, minha namorada. Pauline, esta é a Karine, Sandrinha e a Tati.
Karine, Sandrinha e Tati. Todas bronzeadíssimas. As três, evidentemente, haviam nascido em berço de ouro. Surpreendeu-me estarem de maquiagem em plena praia. Encararam-me com frieza e arrogância por detrás de quilos de rímel. Houve um certo desconforto até mesmo entre os meninos pelo silêncio que se formou. A única coisa boa daquela apresentação foi saber que eu estava namorando o Nando.
Fiquei sem saber como reagir. Elas não desgrudavam os olhos de mim, olhando-me de cima a baixo. Percebi que o Nando também estava incomodado. Ele não esperava uma reação daquelas contra mim. Tentando vencer minha própria timidez e jurando que eu jamais ficaria sozinha no meio delas, eu sorri falsamente e cumprimentei.
- Olá... Como vão vocês?
A tal da Tati até esboçou um sorriso e estendeu a mão. Da parte dela foi um aperto fraco, sem vida. Eu não deixei por menos. Segurei a mão dela fortemente e a sacudi, um pouco vigorosa demais. Karine e Sandrinha, por sua vez, não fizeram menção alguma de serem simpáticas. Neste momento veio lá de dentro da casa o namorado da Tati, um negro alto e bonito, chamado Sérgio. Este ainda eu não conhecia. Fez uma festa quando viu o Nando e me cumprimentou com um abraço apertado. De todos eles, era o mais simpático. Gilberto e Heitor, os rapazes que eu havia conhecido na praia, olhavam-me ainda com desconfiança, mas não chegavam a ser antipáticos. Porém ficou bem claro que eu era uma intrusa. Todos eles, talvez com exceção do Sérgio, deviam estar se perguntando o que o Fernando estava fazendo com uma pobretona como eu.
Mas pelo menos agora eu era oficialmente a namorada do Nando.

sábado, 23 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 30)


O domingo amanheceu com chuva e logo depois do almoço resolvemos voltar para a cidade. Fora o susto que eu passei com meu primo Ricardo, o final de semana havia sido perfeito. Decidi naquela noite ficar em minha casa, pois tinha que levantar cedo para ir ao estágio na segunda-feira. Na verdade, eu temia que Nando começasse a me achar um grude. Afinal, eu estava dormindo direto no apartamento dele e, antes que eu fosse mandada embora, resolvi eu mesma ir sozinha.
Quando abri a porta, deparei-me com minha irmã e Guto assistindo televisão. Assim que Rafa me viu, exclamou irônica:
- Oh! Temos visita!
Larguei minha mochila em cima da mesa da sala e disse sem saber ainda se ela estava brincando ou querendo me provocar:
- Só vim saber se minha cama continua no mesmo lugar.
- Ué... O bonitão enxotou você da cama dele?
- Não. Só vim dormir aqui hoje porque não quero que ele me confunda com um chiclete. E sentir uma saudadezinha de vez em quando sempre é bom.
Sentei-me na poltrona, esticando as pernas, já sentindo falta do Nando. Meu cunhado perguntou curioso:
- E então? Como foi o fim de semana?
- Perfeito – suspirei, lembrando como quase tudo fôra por água abaixo – Choveu quase o tempo todo e por isto foi tão bom.
- Nossa... Quem te viu e quem te vê – debochou Rafaela – Nada como um homem para modificar uma mulher. Logo você que mal saía de casa...
- Escute Paulinha – começou a falar Guto, empolgado – Nós vamos para a praia no carnaval. Quer ir com a gente?
- Obrigada, Guto, mas eu já combinei com o Nando de ir para Floripa. Vamos ficar na casa de um amigo dele.
Com o semblante mais fechado, Rafaela me aconselhou:
- Paulinha, não se sinta inferiorizada por você ser a única pobretona no meio de um monte de gente rica metida à besta.
Isto também já me havia ocorrido, porém não quis dar o braço a torcer. Respondi, tentando demonstrar que aquilo jamais me atingiria, quando eu sabia que era exatamente o contrário:
- Pouco me importa se eles têm dinheiro ou não.
- Pode ser que para você tanto faça, mas não para a turma dele.
Lembrei do jeito que eu havia sido observada pelos amigos do Nando na praia. Eu não queria admitir, mas minha irmã tinha toda a razão.
- O que importa é o que Nando pensa de mim.
- Pode acreditar que ele pensa muito bem sobre você – retrucou Rafaela, deixando-me feliz com aquele comentário – senão ele não a convidaria para passarem juntos o carnaval. O que me incomoda é a discriminação que você pode sofrer.
Realmente Rafaela demonstrava estar preocupada. Guto então disse:
- Bem, você não é nenhuma criança para imaginar que sempre será tudo maravilhoso, não é mesmo, Paulinha?
Às vezes eu me perguntava o que eu estava fazendo. Era como se fosse tudo uma brincadeira de mau gosto. Não era um papel que eu estivesse acostumada a desempenhar. Simplesmente eu estava enganando todo mundo. Nando, minha irmã e em um futuro muito próximo, meus pais e meus tios, caso meu relacionamento com ele desse certo.
- Ei, Paulinha! – chamou-me Guto, despertando-me dos meus terríveis pensamentos sombrios – Escutou o que eu disse para você?
Encarei Guto, agoniada. Com a voz rouca, respondi ao mesmo tempo em que me levantava e pegava a mochila:
- Claro que sim. Você tem razão. Boa noite – e desapareci dentro do meu quarto, trancando-me lá dentro.
Naquela noite custei a dormir.

domingo, 17 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 29)


A chuva não desabou como esperávamos, mas o céu ficou ameaçador toda a tarde, inviabilizando nossa ida à praia ao entardecer. Entretanto, eu não me importei. Podia chover canivetes, desde que eu pudesse estar ao lado do Nando. E as horas seguintes prometiam ser bem românticas.
As coisas começaram a degringolar assim que eu saí do banho, à noite. Ainda enrolada em uma toalha o Nando me presenteou com a notícia:
- Hoje você vai conhecer meu irmão. O Ricardo me ligou agora. Ele vai passar aqui para pegar um CD.
Tive que me apoiar no guarda-roupa, tentando disfarçar que meu mundo não estava despencando. Droga! Meu primo poderia me reconhecer! Tudo estava sendo muito bom para ser verdade. Como eu não tinha outra coisa para dizer, murmurei:
- Que legal.
Sem desconfiar de nada e se preparando para entrar no chuveiro também, ele foi tirando a roupa e dizendo:
- Ele está na casa de uns amigos na praia aqui do lado. Acho que minha cunhada vem junto.
Ele foi para o banheiro e eu fiquei sentada na cama, sentindo um enjôo terrível. O que eu faria agora? Conscientizei-me que aquilo era apenas o começo. Não haveria como eu escapar de uma situação daquelas, a não ser que nos mudássemos para outro Estado, de preferência outro país. Deitei-me na cama e meu coração estava acelerado. Eu nem me mexia mais. Fiquei com medo de vomitar na cama da minha tia.
Quando ele saiu do banho e me encontrou atirada no colchão, imóvel e branca, levou um susto. Aproximando-se de mim, Nando perguntou:
- Pauline! O que você tem?
Abri meus olhos devagar. Naquele momento começou a desabar uma tempestade lá fora.
- Estou enjoada – murmurei quase morrendo.
- Enjoada? O que você comeu?
Ele passou a mão na minha testa. Ocorreu-me que enjoada do jeito que estava, eu não tinha condições de ser apresentada a ninguém, o que já era um alívio.
- Não sei…
- Tudo bem. Fique quietinha que já vai passar. Quer um chá?
- Não.
Minha voz era um lamento. Eu detestava me sentir enjoada, mas minha náusea, naquela noite, tinha chegado em uma ótima hora. Mesmo que aliviasse, enquanto o meu primo Ricardo não vazasse do apartamento, eu ficaria no quarto, fingindo estar passando muito mal. 
- Quer que eu apague a luz?
Mal balancei a cabeça, fazendo que sim. A escuridão me fez algum bem. Eu respirava devagarzinho, com medo que todo meu almoço voltasse de repente. Se eu vomitasse em cima do Nando será que ele ainda me levaria para passar o carnaval em Floripa? Nossa, eu não podia vomitar de jeito nenhum!
Ele deitou ao meu lado e ligou a TV, em volume baixo. A presença dele me reconfortava demais, mas eu sabia que Ricardo estava por chegar e cada vez que eu pensava nisso, meu coração acelerava e meu enjôo aumentava. De repente, o celular tocou.
Ouvi o Nando sussurrar:
- É meu irmão. Vou atender lá na sala.
Não respondi nada porque senão eu vomitaria. O Nando saiu do quarto e ficou fora uns dez minutos. Quando ele voltou, passou a mão de novo na minha testa e anunciou:
- O Ricardo não vai vir por causa da chuva. Até achei melhor mesmo. Não é bom sair de carro no meio de um aguaceiro destes.
Como por encanto, meu enjôo foi passando. Meu coração começou a se aquietar e eu consegui abrir a boca para mentir:
- Ah, que pena...
Em menos de quinze minutos, o mal estar se evaporou. Mas eu não podia demonstrar que havia me recuperado tão rápido. Fingi que aos poucos a náusea estava indo embora até que em mais ou menos quarenta minutos eu já estava em pé e sorridente, morrendo de fome. O Nando não desconfiou de nada e o resto da noite foi tranquila.


FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 28)


Nós ficamos na praia até quase duas horas da tarde. Descobri que meu pânico de mar ainda existia, mesmo com o Nando. Mas não refutei. Eu não iria deixá-lo entrar sozinho na água, enquanto eu ficava na areia. Nunca, nem pensar. Apesar do meu medo, nos divertimos bastante, com litros de protetor solar sobre nossos corpos. Saí do mar morrendo de fome, enquanto o sol foi sendo encoberto pelas nuvens. Estava observando o céu quando dois caras se aproximaram do Nando. Eram amigos dele e os três passaram a conversar animadamente. Logo me senti excluída. Afastei-me, propositadamente, pois o Nando não pareceu fazer questão de me apresentar a eles.  Fingi que olhava algumas peças de roupa de um vendedor ambulante, mas minha atenção se concentrava no papo deles. O assunto era carnaval. Lembrei-me, então, que o carnaval já era no próximo fim de semana. De tão absorvida que eu estava com o Nando, nem havia me lembrado que carnaval existia. Bem, o fato era que os amigos malditos do Nando estavam conversando sobre praia, carnaval, churrasco, futebol e todos os assuntos relativos a homens. No final da conversa percebi que eles combinaram alguma coisa. Pronto, pensei eu, segurando uma bijuteria e com um aperto no coração. O Nando iria passar o carnaval na praia com os amigos – amigas também? - e eu sobraria. Fiquei com vontade de chorar.
- Pauline?
Larguei a bijuteria quando ouvi meu nome e virei meu rosto para o lado. Nando me chamava e os amigos me observavam com muita atenção. Um pouco nervosa me dirigi até eles.
Fiquei surpresa com a reação do Nando. Ele passou o braço sobre meus ombros e me apresentou aos rapazes:
- Esta é a Pauline.
Somente isso. E foi o bastante.  Os dois me cumprimentaram também surpresos. Imediatamente percebi que eles deveriam conhecer Raquel. Talvez até fossem amigos dela. Senti-me um pouco intrusa, porém se eu quisesse casar com o Nando, aquela era uma situação que muito se repetiria. Eu teria que ser aceita pelos amigos dele. E os amigos do Nando, pelo que eu já tinha reparado, eram todos uns metidos.
Eu retribuí o cumprimento com um sorriso sem graça e um aceno de cabeça. Nem abri a boca. Não tive vontade de dizer nada. Os dois tentaram ser simpáticos, é verdade, e eu tentei ser também. O único problema foi que me faltou voz. Não sei se o Nando percebeu meu embaraço. Logo ele se despediu dos caras, eu dei graças a Deus e fomos embora para o apartamento. A fome me consumia.
- Eles me convidaram para passar o carnaval em Santa Catarina.
Eu nunca tinha ido para lá. Sempre morri de vontade em conhecer as praias de Florianópolis. Rafa já tinha ido algumas vezes e contava maravilhas. Será que eu tinha sido convidada também?
- E você vai? – perguntei sem disfarçar meu incômodo.
Nós caminhávamos um pouco apressados. O céu estava ficando um pouco escuro.
- Vou, sim. Ficaremos na casa de um amigo, no norte da ilha. Quer vir também?
- Quero – respondi sem nem pensar direito no que podia acontecer.
- Legal. Já tinha dito para eles que você viria comigo.
- É mesmo? – eu estava admirada e feliz – Tenho que confessar uma coisa para você.
- O que é?
Reparei que o Nando estava curioso.
- Nunca fui a Florianópolis. Você nem imagina a vontade que tenho em conhecer as praias de lá.
- Vou mostrar todas a você – prometeu ele sorrindo para mim.
Minhas pernas chegaram a balançar. Nando era tão gentil que eu imaginava estar vivendo um sonho encantado.
Naquela época era realmente um sonho.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 27)


Pelo resto da semana eu dormi no apartamento do Nando. Em casa eu só passei para buscar algumas roupas e minha escova de dente. Nem nas aulas da faculdade eu compareci mais porque era muito melhor ficar com ele a assistir aquelas matérias chatas de um curso que eu estava abandonando.
Os poucos dias que fiquei no apartamento do Nando foram de encantamento e também de apreensão. A todo o momento eu temia que chegassem seus pais ou o irmão mais velho e minha identidade fosse revelada. Felizmente nada disto aconteceu. Apesar de nos comportarmos como dois namorados, inclusive fazendo compras no supermercado ou indo ao cinema, eu não sabia se estávamos namorando. Quer dizer, eu me sentia namorada dele, com direito a palpitar sobre alguns assuntos da família dele (e minha). Porém, eu ainda não conseguira descobrir se o Nando me namorava. Nem mesmo sabia como me referir a ele. Namorado, ficante, rolo... Fosse o que fosse, o certo é que eu vivia um momento mágico. Meu sinal vermelho de alerta estava permanentemente piscando, como se me avisasse que tudo aquilo tinha data para acabar. Eu procurava ignorar isso para não estragar tudo. E cada vez que eu olhava para o Nando tinha absoluta certeza de que havia encontrado o amor da minha vida. Eu não sabia que amar era tão bom.
E eu precisava me preocupar com pequenos detalhes – ou pequenas mentiras – que sustentavam meu relacionamento com o Nando. No final de semana ele sugeriu que fôssemos para o apartamento dos meus tios na praia e que estava vazio. Meio apavorada concordei. Certa vez, há muitos anos, meus pais, eu e Rafa, passamos um mês inteiro lá. Era grande e bem decorado. Eu só esperava que ninguém da família resolvesse nos visitar.
Mas foi durante o trajeto para a praia que cometi meu primeiro erro. Em meio a assuntos banais, o Nando perguntou:
- Você tem falado com a Ana?
Olhei para ele com a cara mais estranha do mundo.
- Que Ana?
Foi a vez de o Nando fazer uma cara mais esquisita ainda.
- Você não me disse que sua irmã se chama Ana? Ou será que entendi mal?
Engoli em seco. Ana Rafaela. E agora? Como iria me sair daquela? Tentei esconder minhas mãos trêmulas debaixo da minha camiseta.
- Ah, claro. É Ana, sim. É que eu sempre a chamo de Aninha. Aliás, todos a chamam pelo diminutivo. O que você me perguntou mesmo?
- Perguntei se você tem falado com ela. Afinal, você não tem mais dormido na sua casa e nem vai mais às aulas. Deve estar sem vê-la há algum tempo.
- Conversamos por telefone esses dias – eu fiquei olhando fixamente para frente, para não ter que encará-lo e ele descobrisse a mentira no meu olhar – E ela nem sente a minha falta. A Aninha tem um namorado que não desgruda dela nunca.
- Sua irmã já sabe que você pretende largar o curso?
- Nem sonha. Ainda mais que planejamos a muito tempo de trabalharmos juntas. Eu só não podia imaginar que o curso não teria nada a ver comigo.
- Bem, se você tem certeza que está fazendo o curso errado, então o momento de mudar é agora.
Mas não era com aquilo que eu estava preocupada. Eu estava me lixando para o meu curso, para as minhas faltas ou para o meu futuro profissional. A única coisa que me interessava era ele, o Nando, mesmo sabendo que eu jamais poderia abrir mão da minha vida e das minhas coisas por causa de um homem.
Chegamos à praia no sábado, antes das onze horas da manhã. Fora o edifício que estava com uma nova pintura, o resto permanecia tudo igual. O apartamento também fôra pintado, mas os móveis continuavam os mesmos, muito bem conservados. Era quase como uma volta ao passado. Parecia que a qualquer momento meu tio sairia por uma porta e que conversaríamos normalmente como se nada nunca tivesse acontecido.
Infelizmente a realidade era outra, mas tentei afastar este pensamento da mente e concentrar na minha felicidade. Arrumamos as coisas rapidamente e fizemos amor antes de irmos para a praia. O dia estava quente e ensolarado e saímos de mãos dadas, como dois namorados, afinal. Eu me sentia muito importante com um homem lindo como o Nando ao meu lado. Ele atraía olhares femininos e eu tinha vontade de dizer para todas as mulheres que o observavam:
Ele é meu.






quinta-feira, 7 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP 26)


Enquanto Nando tomava banho, eu fui para a sala enrolada somente em uma toalha. Percebi que havia um balcão repleto de fotos da família dele. Ou seja, da minha família também. Não resisti e fui até lá.
Era quase um choque ver ali, em fotos recentes, meus tios e meus primos. O tempo havia passado para meu tio. Ele estava com os cabelos totalmente grisalhos e incrivelmente parecido com meu pai. Minha tia continuava em forma, sempre elegante, o cabelo cada vez mais loiro. E meus primos cresceram, óbvio. Os dois haviam se tornado homens bonitos, porém não tanto quanto o Nando. O mais novo era um bebê quando fugimos para o interior e só descobri que era irmão do Nando porque estava ali, junto com a família. Com esse eu não precisava me preocupar. Ele jamais iria me reconhecer. O perigo era meu primo mais velho.
- Já foram apresentados?
O Nando apareceu de repente, ao meu lado, vestindo uma camiseta e um calção. Ele não desconfiara de nada
- São seus pais e irmãos? – perguntei para disfarçar.
- Sim – e carinhosamente ele foi me mostrando um por um – Estes aqui são meus pais, como você já deve ter percebido.
- Sua mãe é muito bonita – elogiei. De repente, senti saudades dela. Minha tia sempre me tratara muito bem.
- Faz sucesso até hoje, para orgulho e ciúme do meu pai – e pegando outro porta-retrato, Nando apontou os irmãos – Este aqui é o Ricardo – e mostrou o mais velho – Somos muito unidos, afinal nascemos com apenas um ano e meio de diferença.
- O que ele faz da vida?
- Ele gerencia os negócios do meu pai. E este é o Maurinho, meu irmão mais novo. Fez vestibular este ano para medicina e passou.
Fiquei surpresa. Era o primeiro médico da família.
- Ele deve ser bem inteligente.
- É, sim. Mas não tínhamos idéia de quanto. Será o primeiro médico da nossa família. Não sei a quem saiu.
Ocorreu-me uma idéia que me apavorou. Se Nando gostava tanto de guardar fotos da família, então provavelmente ele teria ainda as fotos das festinhas de aniversário que eu freqüentava antes do rompimento. Mesmo minha aparência tendo mudado muito, sempre havia o risco de poder ser descoberta por um detalhe insignificante.
- Você deve ser do tipo que guarda todas as fotos que tira – sondei, pegando outra dos meus tios para olhar melhor – Até mesmo de quando era criança.
- Guardo, sim. Mas as de quando nós éramos menores quem coleciona é minha mãe. Eu não tenho mais nenhuma daquele tempo.
Menos mal, pensei um pouco aliviada.
- Ela tem fotos nossas desde que nascemos – prosseguiu ele, contente em falar sobre a família – Tem tudo registrado. Nós recém nascidos, batizados, primeira comunhão, as festinhas de aniversário… Ela nunca se cansa de olhar.
Alerta vermelho. Eu jamais poderia ficar frente a frente com minha tia. Seria reconhecida. Porém não quis estragar minha noite perfeita com aquele tipo de preocupação. Era tão bom estar com o Nando que não valia a pena eu encher minha cabeça com aquilo, mesmo sabendo que se ficasse com ele manter aquela mentira não seria nada fácil.
Minha satisfação era tamanha que eu mal podia desconfiar que o tormento e a infelicidade apenas estivessem começando para mim.



domingo, 3 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 25)


O apartamento dele, como eu esperava, era moderno e bem arrumado. A sala possuía uma vista maravilhosa que pegava metade da cidade. Não agüentei e fui direto para lá, feito uma criança que ganhou um brinquedinho novo:
- Nando! Que vista linda! – eu exclamei enquanto ele vinha em minha direção – Nossa, se eu morasse em um lugar assim, eu passaria minha vida na janela.
Já ao meu lado, Nando comentou:
- Você que pensa. Eu também achava isto. Depois vira rotina, acaba fazendo parte da sua vida. Dificilmente eu paro aqui para ficar olhando a cidade. Bem, espere um pouco que eu vou pegar a carteira.
E eu fiquei ali, inspecionando cada ponto da cidade, esperando encontrar meu edifício ou algum ponto de referência para localizá-lo. Quase perguntei se o Nando tinha algum binóculo em casa, mas me constrangi e resolvi ficar quieta. Afinal, não fazia nem cinco minutos que estava ali e não queria que ele me achasse uma caipirona.
Distraída que eu estava, praticamente levei um susto quando senti os braços dele me envolverem e os seus lábios beijarem meu pescoço. Minhas pernas amoleceram na hora. Droga, isto ainda não podia estar acontecendo, mas era tão bom...
- Que perfume gostoso você está – e aquela voz sussurrou no meu ouvido, me deixando toda arrepiada.
Não sei o que eu respondi, se é que respondi alguma coisa. Quando percebi, o Nando já estava me beijando na boca e eu correspondi tão apaixonadamente que até fiquei com vergonha de me entregar daquele jeito. E então veio a pergunta que eu mais temia:
- Você tem certeza que quer sair para comer alguma coisa? Ou quer ficar por aqui mesmo?
Ele fez a pergunta me encarando diretamente nos olhos e eu tonteei. Meu Deus, e agora? Fiz em enorme esforço e respondi, com a voz rouca:
- Acho… acho que preciso ir.
- Você não quer ir. Eu sei, vejo pelos seus olhos.
Engoli em seco. Quase tremi. Meio que balbuciando, insisti:
- Quero, sim.
Ele me soltou e eu pensei que fosse cair para frente.
- É uma pena.
E dirigindo-se para a porta, colocando a carteira no bolso, Nando disse, casualmente:
- Vamos, então.
Mas eu não queria ir. Eu queria ficar ali com ele para sempre. Para sempre... E tinha posto tudo a perder mais uma vez.
Joguei-me no sofá, enquanto ele abria a porta. Quando ele se virou, encontrou-me sentada, esparramada, meio trêmula. Agora era tudo ou nada. De preferência, tudo.
- Eu quero ficar.
Me surpreendi com a firmeza da minha voz. E acho que ele também. Enquanto Nando fechava a porta bem lentamente, repeti para que tivesse certeza da decisão que eu acabara de tomar:
- Você escutou? Eu quero ficar aqui com você.
Ele começou a vir na minha direção bem devagar, cravando em mim aqueles olhos escuros que me atormentavam. Achei que não fosse resistir.
- Escutei, sim.
O que veio a seguir foi algo inteiramente mágico. O tempo parou e todos os nossos movimentos pareciam estar em câmera lenta. Descobri que eu não conhecia nada de sexo até aquele momento. Praticamente uma virgem. Realmente, até ficar com o Nando, fazer sexo somente tinha sido uma necessidade ou uma imposição que fiz a mim mesma. Lembro que certa vez minha irmã disse que não havia nada melhor do que fazer amor com quem a gente gosta. Só fui descobrir aquela verdade nos braços do meu primo, depois de tantos anos sonhando acordada com ele. E o melhor de tudo, descobri que o orgasmo existe.
As horas passaram e nós não percebemos. Era tão gostoso sentir o corpo dele junto ao meu e ele dentro de mim, que eu podia passar a vida toda ali. Esqueci de tudo. Até mesmo de ligar para minha irmã para dizer onde eu estava. Era um sonho que eu estava vivendo bem acordada.
Meu celular começou a tocar, enlouquecidamente, dando um susto em nós dois. Surpreso, Nando perguntou:
- É o seu celular que está berrando deste jeito?
Meio constrangida eu respondi:
- Deve ser a minha irmã.
Levantei do tapete da sala onde nós estávamos fazia algumas horas e corri até a minha bolsa. Sim, era Rafaela.
- Oi – disse eu tentando recuperar o fôlego.
- Onde você está?
Rafa berrava do outro lado. Era nítido que ela estava preocupada.
- Ei, calma. Estou com o Nando. Vou chegar mais tarde.
Ele falou do outro lado da sala:
- Diga que você nem vai voltar para casa.
- Vou passar a noite com ele – eu imediatamente falei, em um fôlego só, antes que meu amor mudasse de idéia.
Rafaela ficou muda para depois perguntar rindo:
- Ah… não resistiu às tentações do sexo?
- Sim, está certo – desconversei – Amanhã nos falamos. Tchau e durma bem.
Desliguei o telefone e voltei para os braços do Nando e ali me aninhei.
- Ela devia estar preocupada com você.
- Esqueci totalmente de avisá-la. E como poderia? – eu perguntei voltando meus olhos para ele – Você tomou todo meu tempo.
Beijamos-nos suavemente. Eu já estava extenuada.
- Acho que cansei você – Nando murmurou.
- Não é para menos. Você é maravilhoso.
- Você que é.
Fiquei boba. Fui elogiada pela minha performance sexual. Era a primeira vez que aquilo tinha acontecido.
- Está com fome?     
Lembrei que não comia há horas. E agora já passava das onze horas da noite.
- Devo estar. Nem lembrava mais que eu tinha estômago.
- Vou preparar alguma coisa para a gente comer. Você quer tomar banho enquanto eu cozinho?
Nossa! O Nando iria cozinhar para mim. Tomei um banho quente e delicioso e quando saí do chuveiro, ele entrou, dizendo:
- Deixei uma pizza assando no forno. Nem perguntei se você gostava – desculpou-se ele.
- Gosto de tudo. Inclusive de você.
Minha declaração de amor – a primeira de todas elas – saiu tão natural que pegou Nando de surpresa. Ele não disse nada, mas me beijou. E aquele beijo me disse que meu primo também gostava de mim.
Pelo menos até descobrir quem eu era.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 24)


- Claro.
Com a mão sobre a minha, a gente ficou dando voltas pela cidade. A noite estava linda e no início conversamos apenas sobre assuntos banais. Então de repente ele confessou:
- Puxa, eu precisava mesmo encontrar você para conversar. Tenho estado tenso e você tem o poder de me acalmar.
Fiquei orgulhosa com o que ele dissera, mas alguma coisa fez acender o meu pisca-alerta. Antes que perdesse a coragem, perguntei:
- Aconteceu alguma coisa?
Nando ficou algum tempo em silêncio para depois começar a falar:
- Sabe aquela festa que eu fui no domingo?
- Claro. O que tem ela?
Meu coração gelou com medo da resposta. Olhando-me de soslaio, ele contou:
- A Raquel estava lá.
- Ah…
Não tive outra coisa a dizer. A Raquel estava presente na festa. E eu não. O que poderia ter acontecido? Eu estava prestes a saber.
- Ela tentou reatar nosso relacionamento.
- É mesmo?
Faltavam-me palavras. Meu coração começou a acelerar de puro pavor. Eu preferia não saber o que havia resultado do encontro deles.
- Ficou uma situação muito chata ─ comentou.
Respirei fundo e olhei para ele. O Nando devolveu o olhar, parecendo adivinhar o quanto eu estava desconfortável com aquilo tudo.
- Bom, para encurtar a história, a gente discutiu lá mesmo. Eu não quero e nem vou voltar para a Raquel. Infelizmente a minha família e a dela se envolveram novamente. Acabei discutindo com todo mundo. Não admito que ninguém se intrometa na minha vida e me diga o que tenho que fazer.
Ele ficou levemente alterado e eu beijei de leve o rosto do meu primo, mais aliviada. Mas será que isto significava que o caminho estava aberto para mim?
- Você não chegou a romper com sua família, não é mesmo?
- Felizmente, não. Mas foi por pouco. Meu pai é íntimo amigo do pai dela. Imagine só o clima que se formou. Pelo menos meus irmãos estão do meu lado. E agora minha mãe parece que está compreendendo mais a minha situação. O problema é meu pai.
- Nando, não fique assim. Dê tempo ao tempo.
Ele ficou em silêncio, prestando atenção no trânsito. E eu cada vez mais aliviada e cheia de esperanças. Então ele perguntou:
- Você está com fome? Vamos comer alguma coisa?
Eu não tinha fome nenhuma. Parecia que tinha uma bola entalada na garganta, ainda nervosa por estar com ele. Mas respondi para não bancar a chata:
- Claro, vamos sim.
- Você pode pegar a minha carteira no porta-luvas? Acho que vou ter que parar em algum banco eletrônico para sacar mais grana.
Abri o porta-luvas e afastei alguns papéis. Não havia carteira nenhuma lá dentro.
- Nando... não tem nada aqui dentro. Somente alguns documentos.
Ele me encarou, surpreso:
- Sério? Minha carteira não está aí? Olhe de novo.
Resolvi tirar a papelada e vasculhei com a mão novamente. Nada.
- Não tem nada aqui. Será que você foi roubado?
- Não – respondeu ele fazendo um retorno proibido abruptamente – Deixei a carteira em cima da mesa da sala. Se uma barreira policial me parar, vão apreender meu carro. A carteira de habilitação está dentro da minha carteira.
Ele tomou outro caminho, sempre procurando ruas menos movimentadas. Perguntei:
- Onde estamos indo?
- Para minha casa. Preciso buscar meus documentos.
- Ah… - fiz eu.
Minha cabeça virou um turbilhão. Estávamos indo para o apartamento dele. Será que ele me convidaria para subir ou me deixaria de castigo dentro da caminhonete? Lógico que eu queria conhecer o apartamento. Morria de curiosidade para ver a decoração, os móveis, até de abrir a geladeira para ver o que o Nando comia. Ou de abrir o guarda-roupas. Perfumes, fotos... Será que ele costumava arrumar a cama?
Quando me dei conta, ele reduziu a marcha e entrou na garagem de um prédio. Cumprimentou o porteiro e estacionou a caminhonete. Disse:
- Vamos subir?
- Sim, claro – eu respondi tensa.
Sim, eu estava tensa. Eu sozinha no apartamento com o Nando, meu grande amor. Eu não queria que ele me convidasse para transar novamente. Seria muito difícil resistir e eu queria agüentar mais um pouco até dizer “sim”. Ao contrário da minha irmã, eu achava que precisava bancar a santa mais um tempo.
Entramos no elevador e ele apertou no nono andar. Era um edifício construído recentemente, moderno, cheio de frescura. Perguntei para disfarçar meu nervosismo:
- Quanto tempo faz que você mora aqui.
- Acho que quase dois anos. Meu irmão mais velho é meu vizinho. Mora na torre ao lado.
Gelei. O outro primo seria capaz de me reconhecer...
Não tive muito tempo para pensar no risco que eu estava correndo. O elevador parou e nós saímos para um corredor todo iluminado. Eu nunca tinha entrado em um edifício tão elegante. A minha curiosidade em conhecer o apartamento dele estava cada vez maior. E faltava pouco agora. O Nando parou em frente à porta e a abriu. Sorrindo para mim, ele disse:
- Mi casa, su casa.
- Gracias.