Ficamos em um quarto no segundo
piso, com uma janela que tinha uma bela vista para o mar. Se fosse pela vontade
das três vacas eu ficaria na garagem. Larguei as minhas duas mochilas no chão e
fui direto para a janela, empunhando a máquina fotográfica. Eu me sentia bem
chateada com a recepção dos amigos do Nando, porém não queria estragar todo meu
carnaval por causa deles. Disfarcei, falando com a voz bem animada:
- Nossa, que vista encantadora!
Jamais me cansarei de ficar aqui, admirando o mar. Lá no sul não temos um mar
tão azul.
Enquadrei
a câmera, mas antes que eu conseguisse capturar a imagem, meu agora namorado
veio por trás e me abraçou, beijando-me no pescoço. Fiquei toda arrepiada,
esquecendo o que havia se passado lá embaixo.
- Não dê bola para as meninas.
Elas ainda não superaram que eu e Raquel terminamos o noivado.
- Elas… são amigas da outra? –
perguntei cautelosamente.
- Sim.
Então estava explicado. Amigas da
ex-noiva do Nando. Estava eu entre inimigas. Tive vontade de ligar para minha
irmã e contar tudo. Rafaela era muito prática e podia me dar algum conselho.
Bem, isto teria que ficar para depois. Naquela noite os amigos do Nando já
haviam planejado um churrasco e eu não teria como escapar. Teria que enfrentar
todas as feras e eu torcia para que o Nando me protegesse daquelas leoas que
estavam sedentas do meu sangue.
Entretanto, o churrasco não foi
apenas para o pessoal da casa. Começou, de repente, a chegar muita gente e
todos eram conhecidos entre si. Fiquei surpresa com a popularidade do Nando e
entre aquelas pessoas reconheci muitos que estavam nos álbuns de fotos do Facebook
dele. Fui apresentada como a “nova” namorada do Nando, causando surpresa em
muitos. Claramente não fui aceita pelas amigas dele, em compensação alguns dos
rapazes vinham conversar comigo na boa, sem problema algum. Foi o que me salvou
naquele churrasco. Nem sempre o Nando ficava comigo. Os amigos chamavam e eu
não podia ficar sempre grudada nele. Nunca que eu iria ficar bancando a
namorada insegura na frente daquela galera toda. Felizmente sozinha eu não
cheguei a ficar. Quando ele se afastava, jurando que já voltava, algum dos
meninos se encostavam em mim e ficavam de papo comigo. Assim foi a noite toda. Nenhuma
das meninas se aproximou ao menos para ver se eu era legal. Sentia-me o próprio
ET. Por várias vezes, flagrei algumas delas, em grupinhos, observando-me. No
início desviei o olhar. Entretanto, depois de haver tomado duas latinhas de
cerveja e sentindo-me mais corajosa, cheguei mesmo a encará-las, desafiadoramente.
Eu precisava impor algum respeito, ora bolas. E assim o churrasco foi
transcorrendo até que por volta das três horas da manhã, o Nando, ligeiramente
bêbado, resolveu que iria subir. Dei graças a Deus. Muitos já haviam ido embora
e nós dois subimos as escadas, ambos tontos. No quarto ele foi direto para o
chuveiro e eu desabei na cama, extenuada. Previ que meu carnaval inteiro seria
daquele jeito, as feras me atacando e eu me defendendo do jeito que podia. Não
vi nem quando o Nando voltou. Devo ter caído no sono dois milésimos de segundo
depois de ter me atirado no colchão, de roupa e tudo.