Enquanto
Nando tomava banho, eu fui para a sala enrolada somente em uma toalha. Percebi
que havia um balcão repleto de fotos da família dele. Ou seja, da minha família
também. Não resisti e fui até lá.
Era
quase um choque ver ali, em fotos recentes, meus tios e meus primos. O tempo
havia passado para meu tio. Ele estava com os cabelos totalmente grisalhos e
incrivelmente parecido com meu pai. Minha tia continuava em forma, sempre
elegante, o cabelo cada vez mais loiro. E meus primos cresceram, óbvio. Os dois
haviam se tornado homens bonitos, porém não tanto quanto o Nando. O mais novo
era um bebê quando fugimos para o interior e só descobri que era irmão do Nando
porque estava ali, junto com a família. Com esse eu não precisava me preocupar.
Ele jamais iria me reconhecer. O perigo era meu primo mais velho.
- Já
foram apresentados?
O
Nando apareceu de repente, ao meu lado, vestindo uma camiseta e um calção. Ele
não desconfiara de nada
-
São seus pais e irmãos? – perguntei para disfarçar.
-
Sim – e carinhosamente ele foi me mostrando um por um – Estes aqui são meus
pais, como você já deve ter percebido.
-
Sua mãe é muito bonita – elogiei. De repente, senti saudades dela. Minha tia
sempre me tratara muito bem.
-
Faz sucesso até hoje, para orgulho e ciúme do meu pai – e pegando outro
porta-retrato, Nando apontou os irmãos – Este aqui é o Ricardo – e mostrou o
mais velho – Somos muito unidos, afinal nascemos com apenas um ano e meio de
diferença.
- O
que ele faz da vida?
-
Ele gerencia os negócios do meu pai. E este é o Maurinho, meu irmão mais novo.
Fez vestibular este ano para medicina e passou.
Fiquei
surpresa. Era o primeiro médico da família.
-
Ele deve ser bem inteligente.
- É,
sim. Mas não tínhamos idéia de quanto. Será o primeiro médico da nossa família.
Não sei a quem saiu.
Ocorreu-me uma idéia que me apavorou. Se Nando gostava
tanto de guardar fotos da família, então provavelmente ele teria ainda as fotos
das festinhas de aniversário que eu freqüentava antes do rompimento. Mesmo minha
aparência tendo mudado muito, sempre havia o risco de poder ser descoberta por
um detalhe insignificante.
-
Você deve ser do tipo que guarda todas as fotos que tira – sondei, pegando outra
dos meus tios para olhar melhor – Até mesmo de quando era criança.
-
Guardo, sim. Mas as de quando nós éramos menores quem coleciona é minha mãe. Eu
não tenho mais nenhuma daquele tempo.
Menos
mal, pensei um pouco aliviada.
-
Ela tem fotos nossas desde que nascemos – prosseguiu ele, contente em falar
sobre a família – Tem tudo registrado. Nós recém nascidos, batizados, primeira
comunhão, as festinhas de aniversário… Ela nunca se cansa de olhar.
Alerta
vermelho. Eu jamais poderia ficar frente a frente com minha tia. Seria
reconhecida. Porém não quis estragar minha noite perfeita com aquele tipo de
preocupação. Era tão bom estar com o Nando que não valia a pena eu encher minha
cabeça com aquilo, mesmo sabendo que se ficasse com ele manter aquela mentira
não seria nada fácil.
Minha
satisfação era tamanha que eu mal podia desconfiar que o tormento e a
infelicidade apenas estivessem começando para mim.
É, o cerco vai se fechando... de onde virá a verdade: da própria Pauline, da familia de Nando, de Rafaela.... e aí, Pauline?
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