sexta-feira, 1 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 24)


- Claro.
Com a mão sobre a minha, a gente ficou dando voltas pela cidade. A noite estava linda e no início conversamos apenas sobre assuntos banais. Então de repente ele confessou:
- Puxa, eu precisava mesmo encontrar você para conversar. Tenho estado tenso e você tem o poder de me acalmar.
Fiquei orgulhosa com o que ele dissera, mas alguma coisa fez acender o meu pisca-alerta. Antes que perdesse a coragem, perguntei:
- Aconteceu alguma coisa?
Nando ficou algum tempo em silêncio para depois começar a falar:
- Sabe aquela festa que eu fui no domingo?
- Claro. O que tem ela?
Meu coração gelou com medo da resposta. Olhando-me de soslaio, ele contou:
- A Raquel estava lá.
- Ah…
Não tive outra coisa a dizer. A Raquel estava presente na festa. E eu não. O que poderia ter acontecido? Eu estava prestes a saber.
- Ela tentou reatar nosso relacionamento.
- É mesmo?
Faltavam-me palavras. Meu coração começou a acelerar de puro pavor. Eu preferia não saber o que havia resultado do encontro deles.
- Ficou uma situação muito chata ─ comentou.
Respirei fundo e olhei para ele. O Nando devolveu o olhar, parecendo adivinhar o quanto eu estava desconfortável com aquilo tudo.
- Bom, para encurtar a história, a gente discutiu lá mesmo. Eu não quero e nem vou voltar para a Raquel. Infelizmente a minha família e a dela se envolveram novamente. Acabei discutindo com todo mundo. Não admito que ninguém se intrometa na minha vida e me diga o que tenho que fazer.
Ele ficou levemente alterado e eu beijei de leve o rosto do meu primo, mais aliviada. Mas será que isto significava que o caminho estava aberto para mim?
- Você não chegou a romper com sua família, não é mesmo?
- Felizmente, não. Mas foi por pouco. Meu pai é íntimo amigo do pai dela. Imagine só o clima que se formou. Pelo menos meus irmãos estão do meu lado. E agora minha mãe parece que está compreendendo mais a minha situação. O problema é meu pai.
- Nando, não fique assim. Dê tempo ao tempo.
Ele ficou em silêncio, prestando atenção no trânsito. E eu cada vez mais aliviada e cheia de esperanças. Então ele perguntou:
- Você está com fome? Vamos comer alguma coisa?
Eu não tinha fome nenhuma. Parecia que tinha uma bola entalada na garganta, ainda nervosa por estar com ele. Mas respondi para não bancar a chata:
- Claro, vamos sim.
- Você pode pegar a minha carteira no porta-luvas? Acho que vou ter que parar em algum banco eletrônico para sacar mais grana.
Abri o porta-luvas e afastei alguns papéis. Não havia carteira nenhuma lá dentro.
- Nando... não tem nada aqui dentro. Somente alguns documentos.
Ele me encarou, surpreso:
- Sério? Minha carteira não está aí? Olhe de novo.
Resolvi tirar a papelada e vasculhei com a mão novamente. Nada.
- Não tem nada aqui. Será que você foi roubado?
- Não – respondeu ele fazendo um retorno proibido abruptamente – Deixei a carteira em cima da mesa da sala. Se uma barreira policial me parar, vão apreender meu carro. A carteira de habilitação está dentro da minha carteira.
Ele tomou outro caminho, sempre procurando ruas menos movimentadas. Perguntei:
- Onde estamos indo?
- Para minha casa. Preciso buscar meus documentos.
- Ah… - fiz eu.
Minha cabeça virou um turbilhão. Estávamos indo para o apartamento dele. Será que ele me convidaria para subir ou me deixaria de castigo dentro da caminhonete? Lógico que eu queria conhecer o apartamento. Morria de curiosidade para ver a decoração, os móveis, até de abrir a geladeira para ver o que o Nando comia. Ou de abrir o guarda-roupas. Perfumes, fotos... Será que ele costumava arrumar a cama?
Quando me dei conta, ele reduziu a marcha e entrou na garagem de um prédio. Cumprimentou o porteiro e estacionou a caminhonete. Disse:
- Vamos subir?
- Sim, claro – eu respondi tensa.
Sim, eu estava tensa. Eu sozinha no apartamento com o Nando, meu grande amor. Eu não queria que ele me convidasse para transar novamente. Seria muito difícil resistir e eu queria agüentar mais um pouco até dizer “sim”. Ao contrário da minha irmã, eu achava que precisava bancar a santa mais um tempo.
Entramos no elevador e ele apertou no nono andar. Era um edifício construído recentemente, moderno, cheio de frescura. Perguntei para disfarçar meu nervosismo:
- Quanto tempo faz que você mora aqui.
- Acho que quase dois anos. Meu irmão mais velho é meu vizinho. Mora na torre ao lado.
Gelei. O outro primo seria capaz de me reconhecer...
Não tive muito tempo para pensar no risco que eu estava correndo. O elevador parou e nós saímos para um corredor todo iluminado. Eu nunca tinha entrado em um edifício tão elegante. A minha curiosidade em conhecer o apartamento dele estava cada vez maior. E faltava pouco agora. O Nando parou em frente à porta e a abriu. Sorrindo para mim, ele disse:
- Mi casa, su casa.
- Gracias.


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