Nós ficamos na praia até quase
duas horas da tarde. Descobri que meu pânico de mar ainda existia, mesmo com o
Nando. Mas não refutei. Eu não iria deixá-lo entrar sozinho na água, enquanto
eu ficava na areia. Nunca, nem pensar. Apesar do meu medo, nos divertimos
bastante, com litros de protetor solar sobre nossos corpos. Saí do mar morrendo
de fome, enquanto o sol foi sendo encoberto pelas nuvens. Estava observando o
céu quando dois caras se aproximaram do Nando. Eram amigos dele e os três
passaram a conversar animadamente. Logo me senti excluída. Afastei-me,
propositadamente, pois o Nando não pareceu fazer questão de me apresentar a
eles. Fingi que olhava algumas peças de
roupa de um vendedor ambulante, mas minha atenção se concentrava no papo deles.
O assunto era carnaval. Lembrei-me, então, que o carnaval já era no próximo fim
de semana. De tão absorvida que eu estava com o Nando, nem havia me lembrado
que carnaval existia. Bem, o fato era que os amigos malditos do Nando estavam
conversando sobre praia, carnaval, churrasco, futebol e todos os assuntos
relativos a homens. No final da conversa percebi que eles combinaram alguma
coisa. Pronto, pensei eu, segurando uma bijuteria e com um aperto no coração. O
Nando iria passar o carnaval na praia com os amigos – amigas também? - e eu
sobraria. Fiquei com vontade de chorar.
- Pauline?
Larguei a bijuteria quando ouvi
meu nome e virei meu rosto para o lado. Nando me chamava e os amigos me observavam
com muita atenção. Um pouco nervosa me dirigi até eles.
Fiquei surpresa com a reação do
Nando. Ele passou o braço sobre meus ombros e me apresentou aos rapazes:
- Esta é a Pauline.
Somente isso. E foi o
bastante. Os dois me cumprimentaram
também surpresos. Imediatamente percebi que eles deveriam conhecer Raquel.
Talvez até fossem amigos dela. Senti-me um pouco intrusa, porém se eu quisesse
casar com o Nando, aquela era uma situação que muito se repetiria. Eu teria que
ser aceita pelos amigos dele. E os amigos do Nando, pelo que eu já tinha
reparado, eram todos uns metidos.
Eu retribuí o cumprimento com um
sorriso sem graça e um aceno de cabeça. Nem abri a boca. Não tive vontade de
dizer nada. Os dois tentaram ser simpáticos, é verdade, e eu tentei ser também.
O único problema foi que me faltou voz. Não sei se o Nando percebeu meu
embaraço. Logo ele se despediu dos caras, eu dei graças a Deus e fomos embora
para o apartamento. A fome me consumia.
- Eles me convidaram para passar
o carnaval em Santa Catarina.
Eu nunca tinha ido para lá.
Sempre morri de vontade em conhecer as praias de Florianópolis. Rafa já tinha
ido algumas vezes e contava maravilhas. Será que eu tinha sido convidada
também?
- E você vai? – perguntei sem
disfarçar meu incômodo.
Nós caminhávamos um pouco
apressados. O céu estava ficando um pouco escuro.
- Vou, sim. Ficaremos na casa de
um amigo, no norte da ilha. Quer vir também?
- Quero – respondi sem nem pensar
direito no que podia acontecer.
- Legal. Já tinha dito para eles
que você viria comigo.
- É mesmo? – eu estava admirada e
feliz – Tenho que confessar uma coisa para você.
- O que é?
Reparei que o Nando estava
curioso.
- Nunca fui a Florianópolis. Você
nem imagina a vontade que tenho em conhecer as praias de lá.
- Vou mostrar todas a você –
prometeu ele sorrindo para mim.
Minhas pernas chegaram a
balançar. Nando era tão gentil que eu imaginava estar vivendo um sonho
encantado.
Naquela época era realmente um
sonho.
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