A chuva não desabou como
esperávamos, mas o céu ficou ameaçador toda a tarde, inviabilizando nossa ida à
praia ao entardecer. Entretanto, eu não me importei. Podia chover canivetes,
desde que eu pudesse estar ao lado do Nando. E as horas seguintes prometiam ser
bem românticas.
As coisas começaram a degringolar
assim que eu saí do banho, à noite. Ainda enrolada em uma toalha o Nando me
presenteou com a notícia:
- Hoje você vai conhecer meu
irmão. O Ricardo me ligou agora. Ele vai passar aqui para pegar um CD.
Tive que me apoiar no
guarda-roupa, tentando disfarçar que meu mundo não estava despencando. Droga!
Meu primo poderia me reconhecer! Tudo estava sendo muito bom para ser verdade.
Como eu não tinha outra coisa para dizer, murmurei:
- Que legal.
Sem desconfiar de nada e se
preparando para entrar no chuveiro também, ele foi tirando a roupa e dizendo:
- Ele está na casa de uns amigos
na praia aqui do lado. Acho que minha cunhada vem junto.
Ele foi para o banheiro e eu
fiquei sentada na cama, sentindo um enjôo terrível. O que eu faria agora?
Conscientizei-me que aquilo era apenas o começo. Não haveria como eu escapar de
uma situação daquelas, a não ser que nos mudássemos para outro Estado, de
preferência outro país. Deitei-me na cama e meu coração estava acelerado. Eu
nem me mexia mais. Fiquei com medo de vomitar na cama da minha tia.
Quando ele saiu do banho e me
encontrou atirada no colchão, imóvel e branca, levou um susto. Aproximando-se
de mim, Nando perguntou:
- Pauline! O que você tem?
Abri meus olhos devagar. Naquele
momento começou a desabar uma tempestade lá fora.
- Estou enjoada – murmurei quase
morrendo.
- Enjoada? O que você comeu?
Ele passou a mão na minha testa.
Ocorreu-me que enjoada do jeito que estava, eu não tinha condições de ser
apresentada a ninguém, o que já era um alívio.
- Não sei…
- Tudo bem. Fique quietinha que
já vai passar. Quer um chá?
- Não.
Minha voz era um lamento. Eu
detestava me sentir enjoada, mas minha náusea, naquela noite, tinha chegado em
uma ótima hora. Mesmo que aliviasse, enquanto o meu primo Ricardo não vazasse
do apartamento, eu ficaria no quarto, fingindo estar passando muito mal.
- Quer que eu apague a luz?
Mal balancei a cabeça, fazendo
que sim. A escuridão me fez algum bem. Eu respirava devagarzinho, com medo que
todo meu almoço voltasse de repente. Se eu vomitasse em cima do Nando será que
ele ainda me levaria para passar o carnaval em Floripa? Nossa, eu não podia
vomitar de jeito nenhum!
Ele deitou ao meu lado e ligou a
TV, em volume baixo. A presença dele me reconfortava demais, mas eu sabia que
Ricardo estava por chegar e cada vez que eu pensava nisso, meu coração
acelerava e meu enjôo aumentava. De repente, o celular tocou.
Ouvi o Nando sussurrar:
- É meu irmão. Vou atender lá na
sala.
Não respondi nada porque senão eu
vomitaria. O Nando saiu do quarto e ficou fora uns dez minutos. Quando ele
voltou, passou a mão de novo na minha testa e anunciou:
- O Ricardo não vai vir por causa
da chuva. Até achei melhor mesmo. Não é bom sair de carro no meio de um
aguaceiro destes.
Como por encanto, meu enjôo foi
passando. Meu coração começou a se aquietar e eu consegui abrir a boca para
mentir:
- Ah, que pena...
Em menos de quinze minutos, o mal
estar se evaporou. Mas eu não podia demonstrar que havia me recuperado tão
rápido. Fingi que aos poucos a náusea estava indo embora até que em mais ou
menos quarenta minutos eu já estava em pé e sorridente, morrendo de fome. O
Nando não desconfiou de nada e o resto da noite foi tranquila.
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