sábado, 23 de junho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 30)


O domingo amanheceu com chuva e logo depois do almoço resolvemos voltar para a cidade. Fora o susto que eu passei com meu primo Ricardo, o final de semana havia sido perfeito. Decidi naquela noite ficar em minha casa, pois tinha que levantar cedo para ir ao estágio na segunda-feira. Na verdade, eu temia que Nando começasse a me achar um grude. Afinal, eu estava dormindo direto no apartamento dele e, antes que eu fosse mandada embora, resolvi eu mesma ir sozinha.
Quando abri a porta, deparei-me com minha irmã e Guto assistindo televisão. Assim que Rafa me viu, exclamou irônica:
- Oh! Temos visita!
Larguei minha mochila em cima da mesa da sala e disse sem saber ainda se ela estava brincando ou querendo me provocar:
- Só vim saber se minha cama continua no mesmo lugar.
- Ué... O bonitão enxotou você da cama dele?
- Não. Só vim dormir aqui hoje porque não quero que ele me confunda com um chiclete. E sentir uma saudadezinha de vez em quando sempre é bom.
Sentei-me na poltrona, esticando as pernas, já sentindo falta do Nando. Meu cunhado perguntou curioso:
- E então? Como foi o fim de semana?
- Perfeito – suspirei, lembrando como quase tudo fôra por água abaixo – Choveu quase o tempo todo e por isto foi tão bom.
- Nossa... Quem te viu e quem te vê – debochou Rafaela – Nada como um homem para modificar uma mulher. Logo você que mal saía de casa...
- Escute Paulinha – começou a falar Guto, empolgado – Nós vamos para a praia no carnaval. Quer ir com a gente?
- Obrigada, Guto, mas eu já combinei com o Nando de ir para Floripa. Vamos ficar na casa de um amigo dele.
Com o semblante mais fechado, Rafaela me aconselhou:
- Paulinha, não se sinta inferiorizada por você ser a única pobretona no meio de um monte de gente rica metida à besta.
Isto também já me havia ocorrido, porém não quis dar o braço a torcer. Respondi, tentando demonstrar que aquilo jamais me atingiria, quando eu sabia que era exatamente o contrário:
- Pouco me importa se eles têm dinheiro ou não.
- Pode ser que para você tanto faça, mas não para a turma dele.
Lembrei do jeito que eu havia sido observada pelos amigos do Nando na praia. Eu não queria admitir, mas minha irmã tinha toda a razão.
- O que importa é o que Nando pensa de mim.
- Pode acreditar que ele pensa muito bem sobre você – retrucou Rafaela, deixando-me feliz com aquele comentário – senão ele não a convidaria para passarem juntos o carnaval. O que me incomoda é a discriminação que você pode sofrer.
Realmente Rafaela demonstrava estar preocupada. Guto então disse:
- Bem, você não é nenhuma criança para imaginar que sempre será tudo maravilhoso, não é mesmo, Paulinha?
Às vezes eu me perguntava o que eu estava fazendo. Era como se fosse tudo uma brincadeira de mau gosto. Não era um papel que eu estivesse acostumada a desempenhar. Simplesmente eu estava enganando todo mundo. Nando, minha irmã e em um futuro muito próximo, meus pais e meus tios, caso meu relacionamento com ele desse certo.
- Ei, Paulinha! – chamou-me Guto, despertando-me dos meus terríveis pensamentos sombrios – Escutou o que eu disse para você?
Encarei Guto, agoniada. Com a voz rouca, respondi ao mesmo tempo em que me levantava e pegava a mochila:
- Claro que sim. Você tem razão. Boa noite – e desapareci dentro do meu quarto, trancando-me lá dentro.
Naquela noite custei a dormir.

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