terça-feira, 10 de julho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 34)


Foi uma droga desde que coloquei os pés na areia. A impressão que tive é que fomos seguidos, o que não era verdade, claro. Os amigos do Nando e suas respectivas namoradas apareceram vindos não sei de onde, com um jet ski à reboque. Vi que os olhos do meu amor brilharam quando se depararam com o jet ski e previ que certamente eu teria que dividir minha atenção com aquele trambolho. Os rapazes, todos muito gentis, armaram uma tenda para que nós todas nos protegêssemos do sol. Eu não tinha a menor intenção de ficar próxima a elas, mas não havia alternativa para mim. Minha pele sempre foi muito clara, ao contrário das outras que estavam super bronzeadas e concorrendo entre si para quem adquiriria um câncer de pele primeiro.
Aproximei-me do Nando que estava à beira mar, preparando o jet ski. Eles sairiam para dar uma volta, mas meu namorado me prometeu:
- No máximo em meia hora eu retorno. Você acha que consegue ficar sozinha com elas?
A pergunta foi feita em tom de sussurro. Na verdade eu não tinha a menor vontade de ficar com as vacas. Só de ver o Nando prestes a sair já foi motivo para meu estômago doer, mas eu não podia obrigá-lo a ficar comigo o tempo todo. Respondi, demonstrando muita calma:
- Claro que sim. Vá tranqüilo.
Ele me beijou e eu fiquei ali pertinho, assistindo aos meninos saírem. Depois que eles partiram, eu me dirigi lentamente à tenda. Surpresa. As três vacas haviam tomado o espaço, não sobrando uma mísera sombrinha para mim. E o sol estava cada vez mais forte. Fiz de conta que não me importava. Peguei minha sacola de praia, tirei minha toalha de dentro e passei um protetor solar fator 50, sempre sabendo que todos meus movimentos eram atentamente acompanhados por elas. Uma senhora que estava próxima a mim se ofereceu para passar o protetor nas minhas costas, o que me tranqüilizou bastante, pois eu já estava temendo outra insolação. Então, achando-me protegida do sol, deitei na toalha, fechei os olhos e passei a escutar a conversa enjoada das amiguinhas da Raquel.
Elas sabiam que eu estava escutando tudo, apesar de nem me mexer. A conversa girava sobre ela, a Raquel. Para me provocar em seguida começaram a falar no Nando também, do tempo em que ele estava noivo da outra. Deram a entender que o relacionamento era perfeito e que a separação não seria para sempre. Comecei a me incomodar quando escutei isso, porém permaneci totalmente impassível, de olhos fechados. A seguir veio um relato de quando Raquel caiu de jet ski e Nando a salvou, heroicamente, arrancando aplausos de quem assistiu a cena. Morri de raiva.
A meia hora do Nando levou muito mais tempo. Além de eu estar com fome, indignada e com calor, não suportava mais o matraquear das gralhas. O nome de Raquel eu já havia escutado mais de cem vezes e só não voltei a pé para casa porque não sabia o caminho. De repente ouvi vozes conhecidas e entre elas identifiquei a do Nando. Nem acreditei. Dei um salto da toalha e fui até ele aliviada. Esperava que agora ele me desse um pouco de atenção e me tirasse de perto delas.
- E então? – ele me perguntou com o rosto queimado do sol – Demorei muito, não é?
- Não. Nem me dei conta – menti descaradamente.
Neste momento Nando olhou para a tenda e reparou que Karine, Tati e Sandrinha tinham ocupado todo o espaço debaixo dela.
- Espere aí! Você não ficou debaixo da tenda que armamos para vocês?
- Não.
Foi a única coisa que consegui responder, pois um bolo se formou na minha garganta. Não, eu não iria chorar ali na frente de todo mundo. Jamais daria esse prazer a elas.
- Puxa, você está quente – ele disse encostando a mão na minha pele – Vamos nos refrescar um pouco no mar.
Apesar das ondas fortes, nem senti tanto medo assim. Preferia enfrentar o mar a ficar ao lado das monstras. E nunca me diverti tanto. O mar era tão azul que eu enxergava meus pés. Elas ficaram na areia e deixaram a proteção da tenda quando viram que eu não voltaria mais para lá. Depois de algum tempo, quando estávamos mais perto do raso, o Nando resolveu perguntar:
- Elas incomodaram muito você?
Felizmente minha vontade de chorar já tinha passado. Consegui responder sem tremer a voz:
- Falaram o tempo todo na Raquel.
A expressão dele se crispou. Continuei:
- Chegaram mesmo a relatar aquela vez que ela caiu do jet ski e você a salvou.
- Como?
- Você a salvou de se afogar e até as pessoas que estavam na areia o aplaudiram. Lembra?
- Não posso lembrar-me de algo que nunca aconteceu – retrucou Nando, alterado – Essas mulheres estão loucas! Eu nunca salvei Raquel de afogamento nenhum. Ela detestava praia, mar, areia. Nos últimos tempos eu sempre vinha sozinho para o litoral.
Cheguei a ficar arrepiada. Elas estavam realmente a fim de perturbar meu relacionamento com o Nando. E não estávamos nem na metade do feriadão ainda. O que mais podia ainda acontecer?

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