Eu e o Nando saímos da praia em
seguida e os outros ficaram por lá mesmo. Já eram quase duas horas da tarde e
fomos direto comer alguma coisa. O sol havia me deixado cansada, o mesmo
acontecendo com meu namorado. Passamos, por fim, o resto da tarde descansando
na casa, abraçados na cama, falando besteira ou tirando um cochilo. Ainda bem
que ele não perguntou nada sobre mim, família ou sobre meu passado. Talvez
estivesse satisfeito com o que já conhecia e eu esperava ardentemente que a sua
curiosidade houvesse passado.
Ouvimos sons de vozes na casa,
mas nenhum de nós dois sentimos a menor vontade de descer. Acho que o Nando
também ficou chateado com o comportamento das suas amigas e estava tentando
evitar um maior contato. Porém, em determinada hora, o celular dele tocou. Gilberto
queria combinar a saída de mais tarde. Ficou acertado que nos encontraríamos no
centro, depois das onze horas da noite, com outros amigos deles. Logo eu que
detestava sair, zoeira e tudo o que lembrasse bebedeira, som alto e gente
louca. Descobri que amor era isso mesmo. Eu só precisava cuidar para não me
anular tanto.
Foi no nosso primeiro carnaval
que descobri que meu namorado era uma pessoa muito popular. Não sabia se era
bom ou ruim. No centro, no meio da bagunça toda, Nando era parado a todo
instante. Acho que todos os amigos dele foram para Florianópolis curtir o
carnaval. O fato de eu ser a nova namorada do Nando fazia as pessoas
arregalarem os olhos. Muitos desconheciam que ele não estava mais com a Raquel.
Continuei me sentindo uma alienígena, a intrusa. Eu às vezes parava e ficava
observando aquelas pessoas, tentando compreender porque éramos todos tão
diferentes, com valores tão opostos e pensamentos tão desiguais. Muitos dos
amigos do Nando eram tão superficiais que eu me surpreendia como ele poderia
ter algum tipo de amizade com aquelas pessoas. Enfim, o que me bastava era que
meu namorado continuasse daquele jeito que me encantava e o resto que se
danasse.
Eu que já estava dando pulos de
alegria por não ter mais visto as três vacas, deparei-me com elas em plena rua,
fingindo que sabiam sambar. Quando a Tati me viu, chamou a atenção das outras.
Virei o rosto para o outro lado, tentando esquecê-las e me divertir um pouco. O
Nando não as viu. Agarrado em uma latinha de cerveja, ele se divertia para
valer. Eu bem que tentava. Em dado momento, sem querer, olhei na direção delas.
Achei estranha a cena. Sandrinha estava no celular e as outras duas em volta.
Depois Karine estendeu a mão e pegou o aparelho, com Tati fazendo a mesma coisa
depois. De repente, Sandrinha reparou que eu estava observando tudo. Com um
sinal, chamou as amigas e elas saíram do meu campo de visão. Nesse momento
Nando me segurou pela cintura e cismou de tentar me ensinar a dançar pagode.
Esqueci delas e a madrugada entrou com Nando fazendo força para que eu descontraísse.
Chegamos em casa às quatro horas da manhã. Eu estava demolida, meus pés doíam e
a única coisa que eu precisava era de uma cama. Será que todas as noites seriam
iguais àquela? Será que o Nando agüentaria aquele ritmo até o final?
Como na outra noite, eu dormi
assim que deitei a cabeça na cama, de roupa e tudo. Não vi o que o Nando estava
fazendo e nem sei quando ele resolveu ir dormir. Tive um pesadelo horrível. Eu
sonhava que estava me afogando, que pedia socorro para o Nando e ele não vinha
me salvar. A água me encobria, eu submergia, depois conseguia voltar, o ar
rareando. De longe, na areia, ele assistia minha morte iminente, com um rosto
terrível, sem esboçar qualquer ajuda. Minha voz já não saía, eu sabia que
estava morrendo…
Então acordei no mesmo momento em
que o Nando me chamava. Achei que ele estava vindo me salvar enquanto eu me
sentava na cama, ligeiramente estonteada, tentando voltar à realidade. Meu
namorado ia de um lado para o outro, arrumando as coisas para ir embora. Minhas
duas mochilas estavam em cima da penteadeira, aparentemente prontas. Pisquei os
olhos e perguntei espantada:
− Nando… o que você está fazendo?
− Estou arrumando as nossas
coisas – explicou ele sem me olhar, com uma voz estranha.
Fiquei muda, a princípio.
− Por quê? – perguntei depois de
um minuto inteiro em silêncio, chocada com o ritmo frenético dele.
− Depois eu explico.
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