sexta-feira, 13 de julho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 35)


Eu e o Nando saímos da praia em seguida e os outros ficaram por lá mesmo. Já eram quase duas horas da tarde e fomos direto comer alguma coisa. O sol havia me deixado cansada, o mesmo acontecendo com meu namorado. Passamos, por fim, o resto da tarde descansando na casa, abraçados na cama, falando besteira ou tirando um cochilo. Ainda bem que ele não perguntou nada sobre mim, família ou sobre meu passado. Talvez estivesse satisfeito com o que já conhecia e eu esperava ardentemente que a sua curiosidade houvesse passado.
Ouvimos sons de vozes na casa, mas nenhum de nós dois sentimos a menor vontade de descer. Acho que o Nando também ficou chateado com o comportamento das suas amigas e estava tentando evitar um maior contato. Porém, em determinada hora, o celular dele tocou. Gilberto queria combinar a saída de mais tarde. Ficou acertado que nos encontraríamos no centro, depois das onze horas da noite, com outros amigos deles. Logo eu que detestava sair, zoeira e tudo o que lembrasse bebedeira, som alto e gente louca. Descobri que amor era isso mesmo. Eu só precisava cuidar para não me anular tanto.
Foi no nosso primeiro carnaval que descobri que meu namorado era uma pessoa muito popular. Não sabia se era bom ou ruim. No centro, no meio da bagunça toda, Nando era parado a todo instante. Acho que todos os amigos dele foram para Florianópolis curtir o carnaval. O fato de eu ser a nova namorada do Nando fazia as pessoas arregalarem os olhos. Muitos desconheciam que ele não estava mais com a Raquel. Continuei me sentindo uma alienígena, a intrusa. Eu às vezes parava e ficava observando aquelas pessoas, tentando compreender porque éramos todos tão diferentes, com valores tão opostos e pensamentos tão desiguais. Muitos dos amigos do Nando eram tão superficiais que eu me surpreendia como ele poderia ter algum tipo de amizade com aquelas pessoas. Enfim, o que me bastava era que meu namorado continuasse daquele jeito que me encantava e o resto que se danasse.
Eu que já estava dando pulos de alegria por não ter mais visto as três vacas, deparei-me com elas em plena rua, fingindo que sabiam sambar. Quando a Tati me viu, chamou a atenção das outras. Virei o rosto para o outro lado, tentando esquecê-las e me divertir um pouco. O Nando não as viu. Agarrado em uma latinha de cerveja, ele se divertia para valer. Eu bem que tentava. Em dado momento, sem querer, olhei na direção delas. Achei estranha a cena. Sandrinha estava no celular e as outras duas em volta. Depois Karine estendeu a mão e pegou o aparelho, com Tati fazendo a mesma coisa depois. De repente, Sandrinha reparou que eu estava observando tudo. Com um sinal, chamou as amigas e elas saíram do meu campo de visão. Nesse momento Nando me segurou pela cintura e cismou de tentar me ensinar a dançar pagode. Esqueci delas e a madrugada entrou com Nando fazendo força para que eu descontraísse. Chegamos em casa às quatro horas da manhã. Eu estava demolida, meus pés doíam e a única coisa que eu precisava era de uma cama. Será que todas as noites seriam iguais àquela? Será que o Nando agüentaria aquele ritmo até o final?
Como na outra noite, eu dormi assim que deitei a cabeça na cama, de roupa e tudo. Não vi o que o Nando estava fazendo e nem sei quando ele resolveu ir dormir. Tive um pesadelo horrível. Eu sonhava que estava me afogando, que pedia socorro para o Nando e ele não vinha me salvar. A água me encobria, eu submergia, depois conseguia voltar, o ar rareando. De longe, na areia, ele assistia minha morte iminente, com um rosto terrível, sem esboçar qualquer ajuda. Minha voz já não saía, eu sabia que estava morrendo…
Então acordei no mesmo momento em que o Nando me chamava. Achei que ele estava vindo me salvar enquanto eu me sentava na cama, ligeiramente estonteada, tentando voltar à realidade. Meu namorado ia de um lado para o outro, arrumando as coisas para ir embora. Minhas duas mochilas estavam em cima da penteadeira, aparentemente prontas. Pisquei os olhos e perguntei espantada:
− Nando… o que você está fazendo?
− Estou arrumando as nossas coisas – explicou ele sem me olhar, com uma voz estranha.
Fiquei muda, a princípio.
− Por quê? – perguntei depois de um minuto inteiro em silêncio, chocada com o ritmo frenético dele.
− Depois eu explico.


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