terça-feira, 31 de julho de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 38)


Na volta para casa ocorreu outro imprevisto. Seria sempre assim dali para frente. No meio de uma conversa comentei sem querer que fazia algum tempo que eu não visitava meus pais. Arrependi-me imediatamente. Nando, gentilmente, ofereceu-se:
- Se você quiser, eu posso levá-la em um final de semana até a casa deles. Assim eu posso conhecer meus sogros.
Eu gelei inteira.
- Ah… quem sabe... se você não tiver nada melhor para fazer…
- É só você pedir – respondeu o Nando, a coisa mais querida, segurando minha mão – Puxa, suas mãos estão geladas. Quer que eu desligue o ar?
- Quero – eu disse sentindo uma leve enxaqueca.
Ele desligou o ar condicionado e eu abri a janela. E o resto da viagem foi assim. Eu curtindo uma enxaqueca, com o vento direto no meu rosto para dar algum alivio. Felizmente meu namorado não fez mais nenhuma pergunta sobre a minha (nossa) família. Eu teria vomitado ali mesmo.


Quando eu cheguei em casa a enxaqueca continuava a mesma. Apesar do convite do Nando, resolvi dormir no meu apartamento para enfrentar a fúria da Rafa de uma vez por todas. No entanto, milagrosamente, ela não falou nada. Somente perguntou como havia sido o feriadão e eu perguntei por Guto. Conversamos mais algumas coisas e eu fui dormir exausta. Nem me lembrei de perguntar como estavam nossos pais.
Na manhã do dia seguinte a dor havia passado e eu me levantei sem muita vontade de ir para o estágio. A Rafa já tinha saído e eu tomei um copo de suco rapidamente, pois já estava atrasada. Cheguei uns quinze minutos depois do horário e para minha surpresa fui comunicada que estava sendo dispensada. A explicação foi de que eu sumi na semana do carnaval e não fui capaz de dar nenhuma satisfação, ou seja, deixei meus colegas empenhados. Como eu não tinha o que argumentar, peguei algumas coisas que estavam na minha gaveta e fui embora.
Resolvi voltar a pé para casa, tentando pôr meus pensamentos em ordem. Eu não podia me dar ao luxo de entrar em desespero, mas era exatamente isso o que estava acontecendo. Eu tinha contas para pagar. Rachava todas as despesas de luz, água, comida e qualquer coisa extra com a minha irmã. Meus pais mandavam algum dinheiro para nós todos os meses, mas era apenas um reforço para o aluguel. Minha bolsa de estágio era pouca, mas ajudava a também pagar minhas roupas, a passagem do ônibus, enfim, eu estava falida. A Rafa iria me matar. Meus pais também. E ainda havia o Nando. O que eu diria para ele? Estava morrendo de vergonha.
Meu celular tocou e eu levei um susto. Era Rafaela. Decidi que só contaria que eu estava na rua da amargura logo mais à noite, em casa.
- Oi, Rafa – tentei fazer a voz mais serena possível.
- O que você fez? – vociferou ela do outro lado da linha – O que você andou aprontando para eles te botarem para a rua?
Fiquei pálida. Ela já sabia.
- Como... como você descobriu que eu…
- Eu queria falar com você e liguei para lá. Puxa, Pauline! O que você tem na cabeça? O que nós vamos fazer agora?
- Vamos conversar de noite, está bem? – pedi querendo apaziguar – Estou atravessando uma avenida, não vou discutir este assunto com você agora. Ah, e ainda não conte nada para nossos pais.
- Até mais então – ela disse secamente, desligando o telefone em seguida.
Desconsolada, fui para casa e desliguei o celular. Embora quisesse falar com Nando, eu não estava preparada para contar a ele sobre minha nova realidade. Comparei-me a Raquel. Ela era uma publicitária de sucesso. Eu, uma ninguém desempregada. Namorando um cara bem sucedido, eu também deveria estar à altura dele. Deveria. O Nando trabalhava em um grande banco. E eu, uma pobretona que não tinha nem grana para pagar as contas. Qual futuro teria um namoro daqueles? Logo ele passaria a ter vergonha de mim.


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