sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 43)


Ele veio me buscar em casa para irmos ao cinema, mas eu ainda estava tensa. Minha tarde de pensamentos de terror deixara-me exausta e carente. A vontade que eu tinha era de ficar somente com ele, em um lugar isolado, apenas nós dois. E de preferência em silêncio para que não corresse o risco de ele me perguntar qualquer coisa que pusesse toda a minha mentira em risco.
O filme era bom, mas eu pouco prestei atenção. Durante toda a sessão a única coisa que eu escutava eram as batidas descompassadas do meu coração. E ele percebeu. Quando o filme chegou ao fim, ele me olhou e disse:
− Eu tinha a intenção de convidar você para ir jantar depois do cinema, mas me parece que você não está nos seus melhores dias.
Fiquei gelada. Minha mão congelou na dele em questão de segundos. Antes que eu respondesse, ele comentou:
− A impressão que eu tenho é que você está doente.
Era assim que eu me sentia. Doente. Murmurei:
− Muitas coisas aconteceram nestes últimos dias.
Estávamos caminhando em direção ao estacionamento do shopping para buscar o carro. Ele retrucou:
− Você perdeu um emprego e achou outro. Uma porta se fechou e a outra se abriu. Assim é a vida.
- Você faz a vida parecer muito simples.
− É simples sim. Nós que complicamos tudo.
Aquela frase ficou martelando na minha cabeça. Eu estava complicando tudo, arruinando tudo.
Entramos no carro e ele deu a partida no motor perguntando:
− Você está com fome?
− Não muita. E você?
− Com vontade de comer um boi. Quem sabe eu chamo uma pizza? Você vai dormir lá em casa, não vai?
− Claro que sim – assegurei, passando a mão no rosto dele – Estou com saudades.
Nando me deu um beijo e fomos para o apartamento dele.
A pizza veio logo e eu me descobri com fome. Percebi que Nando me olhava meio estranho enquanto comíamos e o alerta vermelho acendeu novamente. Nem precisei falar nada, pois ele foi mais rápido.
− Você se deu conta de uma coisa?
− O quê?
− Raquel é publicitária.
− E daí?
− E você vai trabalhar em uma agência de publicidade.
A pizza quase entalou na minha garganta. Perguntei tensa:
− Mas… é a mesma agência?
− Claro que não – ele sorriu – Porém ela é uma profissional bem sucedida. É capaz de você ouvir o nome dela algumas vezes por lá.
− Ou então de ela aparecer na agência.
− Tudo é possível.
− Bem, ela não me conhece. E de qualquer forma não acredito que ela vá fazer algum escândalo no seu meio profissional.
Um tanto cético Nando me encarou e disse:
− Você acha? Não tenha tanta certeza assim.



domingo, 26 de agosto de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 42)


O celular tocou pontualmente às dez horas da manhã. Acordei num susto, pensando estar atrasada para alguma coisa. Depois me lembrei de que eu não tinha compromisso nenhum e relaxei. Sonolenta peguei o telefone. Era Rafaela. Minha irmã não me deixou nem dizer bom dia.
- Paulinha, acorda! Consegui uma entrevista de emprego para você!
Típico de Rafaela. Sentei na cama imediatamente, acordada por inteiro.
- Onde?
- O tio do Guto tem uma agência de publicidade e eles estão precisando de uma secretária com o seu perfil. Agendei com o diretor para as 11 horas da manhã. Anota aí o endereço.
Enquanto eu anotava, aos garranchos, o lugar aonde eu deveria ir, choraminguei:
- Rafa, eu nunca fui secretária na vida…
- Você vai conseguir. O Guto disse que o salário é muito bom. E olha, não é estágio! É emprego mesmo, com carteira assinada!
Ela, obviamente, estava mais animada do que eu. Agradeci e desliguei o celular. Eu não tinha muito tempo. Tomei um banho rápido e tentei desamassar o rosto. Não ficaria bem chegar a uma entrevista de emprego com cara de sono. Vesti o que achei pela frente e decidi pegar um táxi. Cheguei com cinco minutos de antecedência e logo me passaram para a sala do diretor que precisava de uma secretária com experiência. Bem, eu não tinha experiência alguma, mas o homem foi com a minha cara. Depois de meia hora de conversa ele me considerou a pessoa ideal para assumir o cargo, o que muito me surpreendeu. Dali fui direto para o recursos humanos e peguei uma lista de exames que precisava fazer. Já passava do meio dia quando lembrei que meu celular estava desligado. Eu esperava que o Nando tivesse me ligado. Não via a hora de contar a novidade para ele. Além do mais, eu tinha gostado bastante do lugar. As pessoas pareciam ter um ótimo astral e o ambiente era descontraído. E como minha irmã dissera, o salário era bem bom. Nem parecia que tudo aquilo era verdade.
Como eu esperava havia uma mensagem do Nando. Liguei imediatamente para ele.
- Nando, sou eu.
Ele estava em pleno almoço. Escutei som de vozes ao redor.
- Você está em casa?
- Não. Eu fui fazer uma entrevista de emprego – contei eufórica.
- Já? – surpreendeu-se ele.
- Foi a Rafa que conseguiu para mim. E deu tudo certo! Acho que começo na semana que vem!
- Isto é ótimo! – vibrou Nando – Vamos nos encontrar esta noite?
Era tudo o que eu queria ouvir.
- Claro, claro que sim. Estou com saudades...
- Ligo para você mais tarde então. Aí conversamos melhor.
- Certo. Até mais.
Ótimo, tudo estava saindo como eu desejava. Quando liguei para Rafa a fim de contar tudo ela já sabia da novidade. Cheguei em casa e liguei para meus pais. Também para eles não havia sido surpresa. Rafaela havia telefonado para lá. Como eu não tinha mais nada a fazer, atirei-me na cama e ali fiquei a pensar na vida. E isto equivalia a pensar somente no Nando.
Entretanto, quanto mais eu pensava nele, mais eu me inquietava. Nosso namoro ía bem. Eu sabia que ele gostava de mim de uma maneira que eu jamais pensei que fosse acontecer. E o cerco, meu Deus, o cerco se fecharia cada vez mais. Eu não poderia levar aquela vida dupla por muito tempo. Seguramente, se não revelasse toda a verdade, eu acabaria dando um furo. Ou alguém da família dele poderia me reconhecer, em qualquer encontro casual. Cenas horríveis vieram a minha mente. Cenas que certamente tinham tudo para se tornarem reais.
Dei um pulo e saltei da cama angustiada. Eu não podia perder o Nando de jeito nenhum, mas para isto eu precisava contar quem eu era. Coragem era tudo o que me faltava.


sábado, 18 de agosto de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 41)


Ela chegou perto das nove horas da noite e me encontrou emburrada, sentada no sofá. Rafa não tinha nem largado a bolsa e os livros em cima da mesa e eu já estava aos berros:
- Eu pedi que você não contasse nada a eles!
Rafaela ficou surpresa com o meu surto. Dificilmente eu perdia a calma mesmo que isto significasse eu me corroer por dentro.
- Ei, mal cheguei!
- Por que você contou a eles que eu fui para a rua? Por que não me deu um tempo para ajeitar as coisas?
- Porque não estou com a menor vontade de levar você nas costas!
Aquilo estava longe de ser uma conversa civilizada. Todo o diálogo era feito em alto e bom som.
- Desde quando você me levou nas costas? Por algum momento que fosse você achou que eu iria lhe pedir dinheiro para pagar minhas contas?
- Mesmo que pedisse, não iria adiantar. Sou tão dura quanto você é. Quer mais? Nossos pais têm que saber o que está acontecendo nesta casa!
Comecei a ficar cada vez mais enfurecida. Continuei sentada no sofá para manter alguma distância dela antes que nos atracássemos de vez.
- E o que está acontecendo aqui? Para mim tudo está tão normal quanto sempre foi.
- Ah, mas não está mesmo – e Rafaela apontou o dedo para mim – Contei tudo para eles. Alguém tem que chamar você para a responsabilidade.
- Nunca fui e nem nunca serei irresponsável! Você está louca!
- Desde que você começou a namorar este tal de Nando... Você está se dando conta do que está fazendo?
- Sim, eu estou amando este “tal de Nando”. Assim como você também deve estar amando o ”tal do Guto”.
- A diferença é que eu não me anulei namorando o Guto. Já você, por causa do seu namorado, não está indo à faculdade, perdeu o estágio... Esqueci alguma coisa? Você deixou sua vida para viver a dele.
- Talvez eu tenha feito isto porque a vida que tenho levado não seja mais tão interessante.
Rafaela ficou surpresa com o que eu disse. Imagino que a vizinhança também, devido ao som cada vez mais alto das nossas vozes.
- Bem, se sua vida não está sendo mais tão interessante, o que pretende fazer? Largar tudo?
- Quer saber? Tenho pensando muito nisto.
- Pensado em quê? Em largar tudo? – Rafaela nem disfarçava mais seu assombro com a minha revelação.
- Não gosto de cursar Design – confessei furiosa – Não gosto dos meus colegas e nem dos meus professores. Até foi bom ter saído do estágio. Quem sabe eu consigo outra coisa que me dê mais satisfação?
Minha irmã ficou muda, sem saber o que dizer. Eu prossegui, desafiando-a:
- Vá! Conte tudo aos nossos pais. Conte que sua irmãzinha surtou!
- Conte você – ela sussurrou, arriando-se em uma cadeira – Eles já estão chocados com as suas atitudes. Eu não vou pôr mais lenha na fogueira.
Ficamos as duas em silêncio por quase um minuto. Com a voz mais ponderada, Rafaela perguntou:
- E o que você vai fazer agora?
- Não sei – respondi de mau humor – Vou acordar amanhã e pensar em alguma coisa.
- Você quer mesmo largar o curso? Você estudou tanto para passar no vestibular... Até planejamos trabalhar juntas.
Ela parecia genuinamente abalada com as coisas que eu havia dito. Respondi chateada:
- Você não iria querer uma pessoa rabugenta ao seu lado como colega.
- Ao menos você descobriu do que gosta? Ou melhor, qual curso gostaria de fazer?
- Hotelaria. Acho que posso gostar desta área.
- A nossa universidade não oferece este curso. Somente as particulares.
- Eu sei – respondi desanimada.
- E como você pretende pagar esse curso?
- Não sei.
- Bem, imagino que você vai pensar sobre estas coisas amanhã cedo?
- Ou amanhã de tarde. Não tenho mais compromisso para me levantar às seis horas da manhã.
Minha irmã se levantou, demonstrando não estar mais a fim de continuar aquela conversa estressante. Suspirou:
- Espero que você não se acostume na boa vida.
- Em absoluto – neguei veementemente – Ainda mais que eles disseram que vão vir para cá em quinze dias caso eu não tenha dado um jeito na minha vida. Você já sabia disso?
- Claro, eles me contaram.
- Simplesmente isto não tem cabimento. Eu tenho 22 anos, não preciso que meus pais venham me fiscalizar.
- 22 anos, mas com comportamento de 15.
Ela disse aquilo e se enfiou no banheiro para tomar uma ducha. Emburrada e de beiço, voltei para meu quarto e dormi logo que pus a cabeça no travesseiro.





domingo, 12 de agosto de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 40)


Eu quis matar a Rafa. Puxa, eu havia pedido para que ela não contasse nada aos nossos pais. Cachorra!
- Eu pedi a Rafaela não contar nada para não preocupar vocês.
- E ela fez muito bem em contar. Afinal, Paulinha, o que está acontecendo com você?
Felizmente não estávamos frente a frente. Quando minha mãe resolvia fazer algum tipo de cobrança ela era implacável.
- Não está acontecendo nada, mamãe. Apenas perdi um estágio.
- Apenas? Você disse “apenas”?
- Escute mãe. Não é o fim do mundo.
Eu já sabia que aquela discussão não iria terminar bem. Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o celular.
- Claro que não. Não é o fim do mundo você ficar sem poder pagar suas contas.
- Mãe, me deixa falar…
- Quem é esse homem com quem você está saindo?
Pronto. Era onde minha mãe queria chegar.
- Fernando – respondi dando graças a todos os santos que o nome “Fernando” era bem comum.
- Por acaso é esse moço que está entortando sua mente?
- Mãe! – exclamei espantada – O Nando não tem culpa de nada.
- Pois eu acho que tem sim. Pelo que sei desde que você começou a andar com ele sua frequência na faculdade caiu. Agora foi o estágio. Qual é a próxima surpresa? Uma gravidez indesejada?
- Mãe! – de novo eu exclamei – O que é isto? Eu sou responsável! Não sei o que a Rafaela anda dizendo para você, mas acho que as informações que estão chegando aí estão equivocadas!
- Então me conte você. Quem é esse Fernando?
O único consolo que eu tinha é que muitos quilômetros nos separavam. Perguntei-me se meu pai estaria escutando a conversa ao lado dela.
- Ele é meu namorado – disse eu firmemente.
- O que ele faz da vida?
- É advogado de um banco.
Minha mãe ficou em silêncio e eu achei que era um bom sinal. Talvez seu medo maior fosse que a sua filhinha caçula estivesse namorando um chinelão.
- É aquele que você conheceu no ano novo?
- É esse mesmo.
- E ele pretende pagar as suas contas?
De novo a voz de aço. Minha mãe era terrível.
- Bem, ele até se ofereceu.
- Escute aqui, Paulinha. Não se iluda com os homens. Eles são uns amores no início. Depois que usam bastante as tontas das namoradas, deixam-nas com uma mão na frente e outra atrás.
- O Nando não é assim – argumentei ficando com raiva.
- Você tem certeza?
- Tenho.
- Não, você não tem. Paulinha, você mal conhece esse rapaz.
            Se ela soubesse…
- Eu confio nele.
- Minha filha, você precisa ser mais pé no chão. Enquanto ele fica em uma sala com ar condicionado, você terá que ir para a rua bater pé, atrás de alguma colocação. O rapaz tem dinheiro? De onde é a família dele?
Meu coração disparou.
- Ele é de boa família, mãe. Pare de perguntar sobre ele, está bem? O Nando é um cara maravilhoso.
- Você tem algum plano B?
- Não tive cabeça para pensar em nada, mãe. Amanhã eu vou me acordar e pôr os pensamentos em ordem.
- Sua irmã está muito nervosa.
- Ficar nervosa não adianta nada – eu falei quase gritando.
- Pauline, baixe seu tom de voz.
Pronto. Ela me chamou de Pauline. A coisa estava ruim. Fiquei muda, furiosa.
- Vou passar o telefone para o seu pai.
A casa caiu. Tudo, menos isso.
- Paulinha… você está aí ainda?
- Estou… - murmurei quando escutei a voz dele do outro lado.
- Eu não quero acreditar que você está deixando se levar por um homem.
Meu Deus, que dia horrível. E a voz do meu pai contribuía para tudo ficar pior.
- Ele é meu namorado, pai. Não é um cara qualquer.
Aquilo estava me cansando. Deitei-me no sofá e fechei os olhos, desejando que a conversa terminasse de vez.
- Escute bem uma coisa, minha filha. Você trate de arrumar alguma coisa para pôr dinheiro em casa, está bem? Não é justo que só sua irmã dê duro enquanto você namora, não vai às aulas e fica de papo para o ar. Estou sendo bem claro?
- Está.
- Não foi para isto que me matei trabalhando para mandar você para a capital. O que nós combinamos quando você passou no vestibular?
- Pai, estou me cansando. Eu não sou nenhuma irresponsável. Perdi o estágio. Vou arrumar outro. Amanhã mesmo eu vou atrás de alguma coisa. Está bom assim?
- Eu espero que seja esta mesma a sua atitude, pois se você não der um jeito na sua vida, eu e sua mãe iremos lhe cobrar tudo pessoalmente.
Quase vomitei. O que menos eu precisava era de uma visita deles. Imaginei um encontro dos meus pais com o Nando e a tragédia que seria.
- Não será preciso – respondi rapidamente.
- Você tem quinze dias, entendeu? Quinze dias.
- Ok.
- E responda direito.
- Está certo, pai.
Nossa, eu teria que correr atrás de um emprego urgentemente.
- E por que você não foi à aula hoje?
- Porque não estou me sentindo bem.
“E porque odeio esta droga de curso”. Se ele lesse meus pensamentos seria A Hecatombe.
- Então descanse hoje e vá à luta amanhã. E ligue todos os dias para nos relatar seus passos.
- Quer dizer que serei vigiada à distância?
- É isto mesmo. Tenha uma boa noite, minha filha, e repense seu comportamento.
Desliguei o celular, com ânsias de atirá-lo contra a parede. Eu queria matar minha irmã. Traidora!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 39)


Deitada na cama chorei horrores. Não almocei e acabei dormindo a tarde inteira. Acordei pelas seis horas da tarde com a minha cabeça explodindo, para variar. Criei coragem e liguei o celular. Será que o Nando tinha me ligado?
Tinha sim. Havia algumas mensagens e eu resolvi telefonar para ele e contar de uma vez por todas. Depois de uma chamada, Nando atendeu ao telefone dizendo:
- Finalmente você me ligou. O que aconteceu? Tentei falar com você o dia inteiro.
- Estou em casa. Acordei agora.
Ele percebeu que minha voz estava diferente. Pudera, depois de tudo o que eu chorei...
− O que houve?
− Nada.
− Pauline, sua voz está esquisita. O que aconteceu?
Respirei fundo e falei de uma vez só:
− Não estou mais trabalhando. Me dispensaram.
− Qual motivo? – perguntou ele espantado.
− Não ter ido semana passada e não ter dado nenhuma satisfação. Parece que meus colegas ficaram no sufoco por minha causa.
Nando permaneceu em silêncio por alguns segundos e quando eu ía perguntar se ele ainda estava lá, escutei a sua voz, chateado:
− A culpa é minha.
− Você está louco? Talvez eles quisessem alguma desculpa para se livrarem de mim.
− Eu convenci você a passar toda a semana comigo. Não achei que eles chegassem a esse ponto.
− Eu fiquei com você porque quis e não me arrependo – assegurei – Paciência, Nando. Vou tentar assentar a cabeça e partir para outra. Eu não curtia aquele lugar.
− Você tem muitas contas para pagar?
Cheguei a ficar gelada. De forma alguma aceitaria grana dele.
− Tenho, mas vou pedir para meu pai ajudar.
− Se você quiser, eu…
− Não, Nando, por favor. Eu dou um jeito.
− Deixe seu orgulho de lado se você precisar de dinheiro. – Nando insistiu – Estou me sentindo responsável.
Onde eu acharia um homem assim? Nunca mais, nem na próxima reencarnação.
− Não se sinta. Eu vou sair dessa.
Eu só não sabia como.
− Pauline – disse ele, mudando de assunto – hoje eu vou sair com meus amigos.
Praguejei mentalmente. Eu estava louca para dormir com o Nando. Mentindo respondi:
− Está certo. Não há problema nenhum. Nos vemos amanhã então.
− Você vai ficar bem?
− Vou. Mas primeiro terei que escutar um sermão da minha irmã.
− Não se preocupe. Tudo vai se arranjar.
− Eu sei – respondi bem desanimada, imaginando minha triste noite sem ele.
− Cuide-se.
− Tchau. Até amanhã.
Tomei um banho e belisquei alguma coisa. Não sentia fome. Eu sabia que dali a pouco minha irmã chegaria possuída e aí o inferno estaria armado. Liguei a televisão e fiquei olhando para a tela sem ver coisa alguma. Pelo menos o Nando existia na minha vida. Até quando? Só Deus sabia.
O celular tocou de novo. Tive a esperança de que fosse o Nando, dizendo que havia desmarcado tudo com os amigos para ficar comigo.
Era minha mãe. Atendi ao telefone tentando demonstrar que tudo estava bem. Eu não tinha a menor intenção de contar qualquer coisa para meus pais naquela noite. Quem sabe eu arranjava algum estágio antes de eles descobrirem?
− Oi, mãe! Como vocês estão aí? – perguntei com a voz super feliz.
Nossa, eu estava ficando especialista em disfarces.
− Muito bem – a voz dela estava fria e eu senti o perigo – E você?
− Ótima. A Rafa não chegou ainda e eu…
Minha tentativa de desviar o assunto foi por água abaixo. Ela não deu tempo de eu respirar. Foi logo perguntando, cortante como o aço:
− Que negócio é este de você ter perdido o estágio?