Deitada na cama chorei horrores.
Não almocei e acabei dormindo a tarde inteira. Acordei pelas seis horas da
tarde com a minha cabeça explodindo, para variar. Criei coragem e liguei o
celular. Será que o Nando tinha me ligado?
Tinha sim. Havia algumas
mensagens e eu resolvi telefonar para ele e contar de uma vez por todas. Depois
de uma chamada, Nando atendeu ao telefone dizendo:
- Finalmente você me ligou. O que
aconteceu? Tentei falar com você o dia inteiro.
- Estou em casa. Acordei agora.
Ele percebeu que minha voz estava
diferente. Pudera, depois de tudo o que eu chorei...
− O que houve?
− Nada.
− Pauline, sua voz está
esquisita. O que aconteceu?
Respirei fundo e falei de uma vez
só:
− Não estou mais trabalhando. Me
dispensaram.
− Qual motivo? – perguntou ele
espantado.
− Não ter ido semana passada e
não ter dado nenhuma satisfação. Parece que meus colegas ficaram no sufoco por
minha causa.
Nando permaneceu em silêncio por
alguns segundos e quando eu ía perguntar se ele ainda estava lá, escutei a sua
voz, chateado:
− A culpa é minha.
− Você está louco? Talvez eles quisessem
alguma desculpa para se livrarem de mim.
− Eu convenci você a passar toda
a semana comigo. Não achei que eles chegassem a esse ponto.
− Eu fiquei com você porque quis
e não me arrependo – assegurei – Paciência, Nando. Vou tentar assentar a cabeça
e partir para outra. Eu não curtia aquele lugar.
− Você tem muitas contas para
pagar?
Cheguei a ficar gelada. De forma
alguma aceitaria grana dele.
− Tenho, mas vou pedir para meu
pai ajudar.
− Se você quiser, eu…
− Não, Nando, por favor. Eu dou
um jeito.
− Deixe seu orgulho de lado se
você precisar de dinheiro. – Nando insistiu – Estou me sentindo responsável.
Onde eu acharia um homem assim?
Nunca mais, nem na próxima reencarnação.
− Não se sinta. Eu vou sair
dessa.
Eu só não sabia como.
− Pauline – disse ele, mudando de
assunto – hoje eu vou sair com meus amigos.
Praguejei mentalmente. Eu estava
louca para dormir com o Nando. Mentindo respondi:
− Está certo. Não há problema
nenhum. Nos vemos amanhã então.
− Você vai ficar bem?
− Vou. Mas primeiro terei que
escutar um sermão da minha irmã.
− Não se preocupe. Tudo vai se
arranjar.
− Eu sei – respondi bem
desanimada, imaginando minha triste noite sem ele.
− Cuide-se.
− Tchau. Até amanhã.
Tomei um banho e belisquei alguma
coisa. Não sentia fome. Eu sabia que dali a pouco minha irmã chegaria possuída
e aí o inferno estaria armado. Liguei a televisão e fiquei olhando para a tela
sem ver coisa alguma. Pelo menos o Nando existia na minha vida. Até quando? Só
Deus sabia.
O celular tocou de novo. Tive a
esperança de que fosse o Nando, dizendo que havia desmarcado tudo com os amigos
para ficar comigo.
Era minha mãe. Atendi ao telefone
tentando demonstrar que tudo estava bem. Eu não tinha a menor intenção de
contar qualquer coisa para meus pais naquela noite. Quem sabe eu arranjava
algum estágio antes de eles descobrirem?
− Oi, mãe! Como vocês estão aí? –
perguntei com a voz super feliz.
Nossa, eu estava ficando
especialista em disfarces.
− Muito bem – a voz dela estava
fria e eu senti o perigo – E você?
− Ótima. A Rafa não chegou ainda
e eu…
Minha tentativa de desviar o
assunto foi por água abaixo. Ela não deu tempo de eu respirar. Foi logo
perguntando, cortante como o aço:
− Que negócio é este de você ter
perdido o estágio?
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