sexta-feira, 14 de setembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 46)


Ficamos no quarto com papai até a noite. Mamãe foi em casa tomar um banho e voltou em seguida. A impressão que eu tinha é que a cidade inteira estava indo visitar meu pai. Combinamos de passar o final de semana na nossa cidade e Guto voltou na sexta-feira pela manhã. Nossa mãe gostou que ficássemos por lá. Durante aquele fim de semana, auxiliaríamos mamãe nos cuidados com ele, em casa, assim que fosse liberado do hospital.
Também na sexta-feira eu não liguei o celular. Fiquei imaginando o que Nando poderia estar pensando. Estaria preocupado achando que eu morri? Ou que eu estaria fugindo dele... Ele também poderia estar procurando consolo nos braços de Raquel, já que a nova namorada estava ausente, em lugar incerto e não sabido. Felizmente, quando meu pai voltou para casa, ele se tornou o centro das atenções e mamãe e Rafa não perguntaram nada sobre meu namoro. E eu fiquei doente. Passei com enxaqueca e enjoada, atirada no sofá. Não as ajudei nos cuidados com papai. Não comi, não bebi, sentia-me fraca. Papai se recusou a ficar na cama, ficando ao meu lado, na sala. As visitas iam e vinham e me encontravam pálida, inerte. Todos pensavam que eu estava abalada pelo acidente. Deixei o celular dentro do guarda-roupa, bem distante de mim. Para não fugir do habitual, menti que o tinha perdido quando lá pelas tantas a Rafa perguntou se o Nando havia ligado. Então meu pai resolveu comentar:
− Achei que hoje eu conheceria este seu namorado secreto.
Fiquei mais pálida do que já estava. Respondi tensa:
− Ele está viajando, pai. E o Nando é uma pessoa muito ocupada.
Meu pai me olhou como se não acreditasse naquela minha desculpa esfarrapada.
− Quer dizer que se eu tivesse morrido, ele não teria vindo ao meu enterro por estar a serviço?
− Pai, por favor… - pedi, revirando os olhos irritada – Não comece a me provocar.
Aparecendo da cozinha com um prato de sopa, mamãe disse:
− Também pensei que conheceria meu genro misterioso.
− Ele não tem nada, absolutamente nada de misterioso. É um cara comum. O que é isto? – perguntei quando minha mãe colocou o prato de sopa na minha frente.
− Coma. Você está muito magra e não pode ficar doente agora que arranjou um emprego novo.
Sorvi algumas colheradas daquela sopa deliciosa, ainda escutando comentários sobre meu namoro.
− Da próxima vez que você vier aqui traga seu namorado, Paulinha. Ou ele é tão bem sucedido que não quer conhecer sua família pobre?
− Ele já manifestou vontade de vir conhecer vocês – respondi emburrada – Só que o momento ainda não aconteceu.
− Você não está escondendo suas origens, não é mesmo, minha filha? – perguntou mamãe, subitamente desconfiada de alguma coisa.
Lutei para não ficar vermelha. Fiquei soprando a sopa, embora ela não estivesse mais quente. Meu Deus, o cerco se fechava. Quando não era Nando, eram meus pais.
− Não, claro que não. Vou esconder o quê?
− Que não pertencemos ao mesmo nível social dele.
Não a encarando diretamente, disse:
− Ele sabe disso. Mas acho que não se importa.
− Já conhece os pais dele?
Meu pai fez a pergunta e ela soou ácida nos meus ouvidos. Socorro.
− Não
− Por quê?
− Porque não. Porque eu não quero – e dizendo isto, devolvi o prato para minha mãe, aborrecida e nervosa – Vocês fazem perguntas demais. Meu namoro está apenas no início. Boa noite. Eu vou dormir.
Levantei-me do sofá, respirando fundo para não estontear. Fui para o quarto e me joguei na minha antiga cama. Dormi imediatamente, um sono recheado de pesadelos com o Nando.


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