Partimos no domingo à tardinha, tranquilas
com o estado satisfatório do meu pai. Minha irmã ficou o tempo todo me lembrando
de que eu devia procurar a agência e explicar meu sumiço. Mas eu não estava nem
aí para eles. Meus pensamentos só queriam saber do Nando. Evidentemente ele não
tinha mais me ligado, furioso que estava. Eu nem sabia se ainda era namorada
dele e minhas horas de sono foram reduzidas a três por noite. Só de pensar que
meu relacionamento com o Nando estava por um fio, meu estômago se revoltava. No
domingo de noite, recém instalada em casa, tomei a decisão. Eu iria procurar o
Nando no banco no dia seguinte. Preparei-me para escutar uma série de desaforos.
Cheguei ao banco meia hora antes
do almoço. Vesti uma roupa um pouco melhor para não parecer uma pobretona.
Fiquei surpresa quando descobri que o Nando tinha uma secretária só para ele e
fiquei mais feliz ainda ao ver que ela possuía, pelo menos, uns trinta anos a
mais que eu.
Ela
ao me ver não demonstrou surpresa nenhuma. Ficou me encarando por debaixo das
suas lentes grossas, esperando que eu me manifestasse.
−
Eu… eu quero falar com o Fernando.
−
Ah, o doutor Fernando? – fez questão ela de me corrigir – Tem hora marcada?
−
Preciso marcar? – perguntei confusa – Não achei que precisasse. Eu…
−
Qual seu nome?
−
Pauline.
−
De onde? Qual o assunto – A secretária não demonstrava a menor boa vontade
comigo.
−
Sou a namorada dele.
A
mulher imediatamente mudou o comportamento, tornando-se um pouco mais educada.
Pediu licença e entrou na sala do chefe. Dois segundos depois ela voltou com um
sorriso forçado e disse:
−
Pode entrar.
Ufa!
Não fui posta para a rua. Com as mãos suando, entrei timidamente na sala.
Surpreendi-me pelo bom gosto dos móveis e pela decoração de alto nível. Meu
senso de inferioridade acentuou-se a níveis críticos.
Encontrei
o Nando sentado junto à mesa olhando atentamente para a tela do seu notebook,
ignorando-me totalmente. Aproximei-me devagar, esperando alguma explosão da
parte dele. Nada. Apenas a indiferença.
Trêmula,
eu me sentei já com lágrimas nos olhos. Sussurrei:
−
Nando…
Foram
séculos – na verdade apenas segundos – o tempo que ele levou para me encarar.
Sua expressão dura se amenizou quando se deparou com a minha cara de coitada.
−
Nando, me desculpe.
Ele
ficou alguns instantes em silêncio e perguntou:
−
Como está seu pai?
−
Melhorando. Mas eu não vim aqui falar sobre ele.
−
Pauline, deixe assim.
Fiquei
estática. Achei que estava levando o temível pé na bunda.
−
Não entendi.
−
Esqueça isto tudo. Vamos passar por cima do que aconteceu.
Fui
soltando o ar aos poucos, não querendo mostrar o quanto eu me sentia aliviada.
−
Não quis incomodar você, Nando, com os problemas do meu pai.
−
Mas poderia ter me avisado.
−
Não tive tempo – argumentei, fracamente.
−
Esqueça – pediu ele novamente, fazendo um gesto para acabarmos com aquela
situação estressante – Ele está bem, não está?
−
Claro – respondi ansiosa
−
Ótimo. Só cuide para não repetir seu gesto.
Levantei
da cadeira e fui até ele, pois precisava urgentemente sentir o abraço do meu
namorado. Nando também se levantou para me abraçar e quando nos unimos, percebi
realmente que aquele problema estava superado. Até vir outro pior.
−
Você é muito misteriosa – sussurrou ele no meu ouvido.
−
Não sou, não – neguei gelada até os ossos.
−
Eu ainda vou descobrir os seus segredos.
Felizmente
eu estava com o rosto enterrado no ombro dele e Nando não percebeu o quanto eu
estava sem graça. Porém, naquele momento eu estava feliz. E disposta a curtir
minha felicidade mesmo que ela fosse fugaz.
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