Deixei
o celular ligado direto, na esperança de que o Nando ligasse. Ele não ligou, a
bateria se foi e eu nem tive ânimo de carregar. Era uma hora da manhã quando
resolvi levantar, tomar banho, fingir que comia e assistir TV. O sono veio por
volta das quatro horas da madrugada e acabei despertando as oito quando a
Rafaela chegou e me flagrou dormindo no sofá.
–
Nossa, que susto! – exclamou ela ao me ver dormindo meio sentada meio deitada,
o rosto inchado.
Guto
perguntou inocentemente:
–
Você está doente?
Rafa
quem respondeu:
–
Não, Guto. Ela brigou com o Nando e passou a noite aos prantos. Acertei?
–
Como você é perspicaz – resmunguei espreguiçando-me.
–
O que aconteceu agora, Paulinha? Vocês estavam indo tão bem...
–
Nem me pergunte – eu pedi com a voz baixa – Não quero falar sobre isto. Mas
acho que perdi meu namorado.
Os
dois ficaram em silêncio sem ter o que dizer. Então Guto fez o convite:
–
Você não quer ir a um passeio ciclístico conosco? Vai ser bem divertido.
–
Isto mesmo, Paulinha – incentivou Rafaela – Você vai fazer o que em um domingão
como hoje? Sofrer?
Na
ponta da minha língua pairava um sonoro “não”. Porém, a perspectiva de passar
um domingo chorando era terrível. Aceitei.
Rafa
e Guto vibraram com minha boa vontade e tratamos de pegar as bikes e participar
do evento. Durante o trajeto consegui cair duas vezes e sangrar meus joelhos,
mas nem me importei. A dor física dos esfolados era bem mais fácil de suportar
daquela que assolava meu pobre coração.
Passamos
o dia fora e chegamos somente de noite em casa. Eu estava exausta. E cheia de
esperança. Quem sabe Nando tinha tentado me ligar durante o dia?
Peguei
meu celular que se encontrava atirado em um canto da sala e imediatamente eu o
pus para carregar. Minha irmã, assistindo toda aquela movimentação, reparou que
eu esperava ansiosamente por uma mensagem que não veio.
–
Ele não se manifestou?
–
Não – respondi amuada – Absolutamente nada.
–
Acho que você devia largar este cara. Ele só faz você sofrer.
–
Presumo que ele já tenha feito isto.
Deixei
o telefone ligado na esperança de que algo acontecesse. Enquanto Guto assistia
TV e Rafaela tomava banho, peguei meu pen drive onde eu guardava todas as
minhas fotos com o Nando. Nem sei por que fiz aquilo comigo. Era meu lado
masoquista, relembrando momentos felizes passados com meu amor. Olhando as
fotos, eu não conseguia acreditar que aquela garota feliz da vida era eu. E que
aquela mesma garota havia namorado o cara mais lindo, gentil, querido e
carismático do mundo.
Depois
de algum tempo sofrendo, Rafaela interrompeu minha sessão nostalgia pondo a
cabeça dentro do quarto dizendo:
–
Paulinha, já liberei o banheiro para você.
–
Obrigada – respondi desanimada.
Peguei
roupas e a toalha e fui tomar banho. A água quente ardeu nos meus joelhos
ralados e eu torci que me desse alguma infecção galopante. Doente, eu não
pensaria nele, esta era a lógica da minha mente perturbada.
Meia
hora depois, de banho tomado, não estava menos angustiada. Fui direto para meu
quarto sentindo minha barriga roncar. Estava imaginando o que eu poderia comer,
quando me deparei com Rafaela sentada em frente ao computador, olhando as fotos
do Nando. Tive vontade de me esganar. Como é que eu havia esquecido o meu
arquivo aberto? Imperdoável. Esperava que Rafaela não tivesse reconhecido o
primo. Porém, quando ela me encarou, percebi que o estrago estava feito e que
era imenso também.
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