sábado, 27 de outubro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 56)


Só fomos nos falar novamente no domingo à noite porque eu resolvi ligar. Óbvio que ele estava emburrado e não adiantou eu repetir que sim, eu iria à festa do irmão, praticamente aceitando isto como uma sentença de morte para nosso relacionamento. Quando Nando fez novamente a oferta de pagar a minha roupa e eu recusei, ele gritou comigo. E antes que eu começasse a chorar, resolvi deixar o orgulho de lado e combinei de passar no banco no dia seguinte para pegar o meu “empréstimo”. Minha irmã chegou ao final da discussão, mas sequer olhou para minha cara. Mal me cumprimentou e entrou direto no quarto. E lá estava eu, sozinha novamente.

Ao contrário das últimas semanas, a que antecedeu ao aniversário do meu cunhado e primo foi tudo de ruim. O Nando passou aqueles dias como que desconfiando de mim. Com o dinheiro que ele me emprestou comprei um vestido e uma sandália e ainda sobrou para que eu fosse ao salão no sábado me maquiar e ajeitar o cabelo.

Nenhum dia daquela semana eu fui para o apartamento do Nando, restando somente suportar a cara feia da Rafa e vice-versa. Com certeza ela percebeu que a coisa estava danada para o meu lado, mesmo eu falando com meu namorado via celular todas as noites. Se não fosse meu trabalho na agência, eu teria entrado em surto. Não sentia mais fome e comia só para não perder o hábito. Perdi dois quilos em cinco dias e, para completar o quadro do horror, 24 horas antes do evento Rafa me olhou e declarou, dirigindo-se a mim pela primeira vez na semana:
− Você parece uma Mortícia de cabelos vermelhos.

Não me olhei mais no espelho naquele dia. Sábado pela tarde eu voei até o salão, onde eu implorei, por favor, que me deixassem bem diferente do que eu era. Me maquiaram, deram um jeito no meu cabelo, conseguiram espantar minha aparência cadavérica. E quando Rafa me viu toda fina e elegante, logo mais à noite, esperando nervosamente o Nando, perguntou:
− De quem é a festa?
− Do irmão mais velho do Nando – suspirei.
Rafaela empalideceu.
− Mas vão estar todos lá! Onde será? Na casa dos tios?
− Não – respondi cada vez mais arrasada – No Caribbean.
− Uau! Bem, lá é mais fácil de se esconder.
− Não tenho como escapar de ser apresentada aos meus cunhados...
− Primos.
− Meus cunhados. Os pais do Nando...
− Nossos tios.
− Os pais do Nando estão em um casamento agora e só vão pintar no Caribbean mais tarde. Dizem que o lugar é enorme. E assim que eu souber que eles chegaram, eu sumo.
− Então este é o plano? E você tem plena confiança de que dará certo?
− É a única alternativa que eu tenho. Será que os dois irmãos do Nando podem me reconhecer?
− Os nossos primos? Não, duvido muito. O mais novo nem deve saber que você existe. E o mais velho nem lembra que tem primas. E você mudou muito. Mas não se empolgue. Você não passará pelo olho clínico dos nossos tios.
Meu celular tocou. Era o Nando. Controlei o princípio de pânico. Rafa disse irônica:
− Desejo toda a sorte do mundo para você. E mesmo assim não será o bastante.

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