Só
fomos nos falar novamente no domingo à noite porque eu resolvi ligar. Óbvio que
ele estava emburrado e não adiantou eu repetir que sim, eu iria à festa do
irmão, praticamente aceitando isto como uma sentença de morte para nosso
relacionamento. Quando Nando fez novamente a oferta de pagar a minha roupa e eu
recusei, ele gritou comigo. E antes que eu começasse a chorar, resolvi deixar o
orgulho de lado e combinei de passar no banco no dia seguinte para pegar o meu
“empréstimo”. Minha irmã chegou ao final da discussão, mas sequer olhou para
minha cara. Mal me cumprimentou e entrou direto no quarto. E lá estava eu,
sozinha novamente.
Ao
contrário das últimas semanas, a que antecedeu ao aniversário do meu cunhado e
primo foi tudo de ruim. O Nando passou aqueles dias como que desconfiando de
mim. Com o dinheiro que ele me emprestou comprei um vestido e uma sandália e
ainda sobrou para que eu fosse ao salão no sábado me maquiar e ajeitar o
cabelo.
Nenhum
dia daquela semana eu fui para o apartamento do Nando, restando somente
suportar a cara feia da Rafa e vice-versa. Com certeza ela percebeu que a coisa
estava danada para o meu lado, mesmo eu falando com meu namorado via celular
todas as noites. Se não fosse meu trabalho na agência, eu teria entrado em surto.
Não sentia mais fome e comia só para não perder o hábito. Perdi dois quilos em
cinco dias e, para completar o quadro do horror, 24 horas antes do evento Rafa
me olhou e declarou, dirigindo-se a mim pela primeira vez na semana:
−
Você parece uma Mortícia de cabelos vermelhos.
Não
me olhei mais no espelho naquele dia. Sábado pela tarde eu voei até o salão,
onde eu implorei, por favor, que me deixassem bem diferente do que eu era. Me
maquiaram, deram um jeito no meu cabelo, conseguiram espantar minha aparência
cadavérica. E quando Rafa me viu toda fina e elegante, logo mais à noite,
esperando nervosamente o Nando, perguntou:
−
De quem é a festa?
−
Do irmão mais velho do Nando – suspirei.
Rafaela
empalideceu.
−
Mas vão estar todos lá! Onde será? Na casa dos tios?
−
Não – respondi cada vez mais arrasada – No Caribbean.
−
Uau! Bem, lá é mais fácil de se esconder.
−
Não tenho como escapar de ser apresentada aos meus cunhados...
−
Primos.
−
Meus cunhados. Os pais do Nando...
−
Nossos tios.
−
Os pais do Nando estão em um casamento agora e só vão pintar no Caribbean mais
tarde. Dizem que o lugar é enorme. E assim que eu souber que eles chegaram, eu
sumo.
−
Então este é o plano? E você tem plena confiança de que dará certo?
−
É a única alternativa que eu tenho. Será que os dois irmãos do Nando podem me
reconhecer?
−
Os nossos primos? Não, duvido muito. O mais novo nem deve saber que você
existe. E o mais velho nem lembra que tem primas. E você mudou muito. Mas não
se empolgue. Você não passará pelo olho clínico dos nossos tios.
Meu
celular tocou. Era o Nando. Controlei o princípio de pânico. Rafa disse
irônica:
−
Desejo toda a sorte do mundo para você. E mesmo assim não será o bastante.
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