domingo, 23 de dezembro de 2012

FAÇO TUDO POR AMOR (CAP. 68)


Tomei um banho e fui procurar o Victor. Ele e Fred estavam sentados na varanda da pousada, trocando confidências. Geralmente eu não costumava interromper aqueles momentos íntimos entre os dois, mas achei sinceramente que eles não iriam se importar.
− Victor...
           
Acho que dei um susto nos dois. Meu amigo se voltou rapidamente e quando se deparou com minha expressão perguntou tenso:
− O que houve com você?
− Por quê? – perguntei igualmente tensa.
− Você está horrível – declarou Fred.
− Eu… bem… Victor, você pode me emprestar seu celular novamente?

Ele me encarou e foi tirando o celular bem devagar do bolso das calças. Estendi a mão para pegá-lo, porém antes de me entregar, Victor indagou:
− Vai falar com quem?
− Com ninguém. Só quero escutar a voz.
           
Victor revirou os olhos, como se sentisse exasperado.
− Você quem sabe. Se for o máximo que consegue fazer...

Nem respondi. Agradeci rapidamente e me afastei alguns metros em direção à praia. Era noite. Não havia ninguém próximo. Somente o som das ondas e o meu sofrimento me cercavam.

Foram três tentativas até que eu conseguisse acertar o número do Nando. E desta vez ele atendeu rápido, antes da segunda chamada.
− Alô?

A voz dele estava diferente. A impressão que tive era que ele estava esperando por aquela ligação.

Tranquei a respiração e emudeci. Escutei a respiração dele do outro lado. Ele aguardava uma resposta que não veio. Uns dez segundos de silêncio e Nando tentou novamente:
− Quem está aí?

Desta vez cheguei a abrir a boca para falar. Só faltou a voz. Agarrei com força o celular e deixei escapar um soluço. E ele escutou.
− Onde você está?

Pronto, ele descobriu que era eu. Desliguei o telefone na hora e voltei correndo para a varanda. As lágrimas escorriam pelo meu rosto quando devolvi o celular para Victor.
− O que você fez agora? – perguntou meu amigo, sem saber se me apoiava ou se ria da situação.
− Eu chorei no telefone! – respondi quase histérica – E ele reconheceu meu soluço.

Os dois desabaram a rir. Fiquei parada na frente deles, sem saber o que fazer.
− Isto não tem graça nenhuma – murmurei.
− Tudo bem – disse Victor, tentando se controlar – Me conte o que houve.
− Bem, eu… - minhas mãos se retorciam nervosas – Ele atendeu logo da primeira vez. 
Acho que ele sabia que era eu de novo. Não respondi e o Nando perguntou quem estava do outro lado da linha. Então eu solucei! Victor, ele reconheceu meu soluço! Que ridículo!
− E depois? – perguntou Victor curioso – O que seu namorado disse?
− Perguntou onde eu estava.
− E você?
− Eu desliguei.

Victor e Fred se entreolharam com uma expressão de desânimo.
− Inacreditável – sussurrou Victor.
− Eu… eu não senti amor na voz dele – expliquei, sentindo a garganta apertar. Sim, era isto. Total falta de amor.
− Pode ter sido impressão sua – disse Fred calmamente.
− Não foi – eu funguei, enxugando os olhos. Meu mundo estava desabando novamente em cima de mim.

Victor me olhava ainda com uma expressão de riso.
− Ele perguntou onde você estava? Não foi isto?
− Foi.
− E você não acha que isto é uma prova de amor?
- Não. Você não escutou o tom de voz dele – respondi segurando o choro – Não havia carinho, não havia amor, não havia nada. O Nando está com raiva de mim até hoje. Ele não foi capaz de superar o ódio que sente de mim – Minha voz começou a ficar alta, perigosamente alta e histérica.
− Pauline, você não teve tempo de escutar direito...
− Não, Victor – pedi sentindo-me derrotada – O Nando quer saber onde estou apenas para terminar a surra e me matar de vez!

Saí da varanda e fui para meu quarto deixando os meus dois amigos parados na varanda, mudos. Talvez estivessem surpresos com meu ataque de histeria e felizmente não havia nenhum hóspede por perto para testemunhar meu surto. Tomei um banho rápido e chorei tanto que fui dormir com uma enorme enxaqueca. Para meu próprio espanto, dormi feito uma pedra. Quando acordei, o sol entrava pela minha janela. Minha cabeça não doía mais. Meu coração, sim. Como eu poderia viver sabendo que o homem que eu amava ainda me odiava?

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