Tomei
um banho e fui procurar o Victor. Ele e Fred estavam sentados na varanda da
pousada, trocando confidências. Geralmente eu não costumava interromper aqueles
momentos íntimos entre os dois, mas achei sinceramente que eles não iriam se
importar.
−
Victor...
Acho que dei um susto nos dois. Meu
amigo se voltou rapidamente e quando se deparou com minha expressão perguntou
tenso:
−
O que houve com você?
−
Por quê? – perguntei igualmente tensa.
−
Você está horrível – declarou Fred.
−
Eu… bem… Victor, você pode me emprestar seu celular novamente?
Ele me encarou e foi tirando o
celular bem devagar do bolso das calças. Estendi a mão para pegá-lo, porém
antes de me entregar, Victor indagou:
−
Vai falar com quem?
−
Com ninguém. Só quero escutar a voz.
Victor revirou os olhos, como se
sentisse exasperado.
−
Você quem sabe. Se for o máximo que consegue fazer...
Nem respondi. Agradeci rapidamente e
me afastei alguns metros em direção à praia. Era noite. Não havia ninguém
próximo. Somente o som das ondas e o meu sofrimento me cercavam.
Foram três tentativas até que eu
conseguisse acertar o número do Nando. E desta vez ele atendeu rápido, antes da
segunda chamada.
−
Alô?
A voz dele estava diferente. A
impressão que tive era que ele estava esperando por aquela ligação.
Tranquei a respiração e emudeci.
Escutei a respiração dele do outro lado. Ele aguardava uma resposta que não
veio. Uns dez segundos de silêncio e Nando tentou novamente:
−
Quem está aí?
Desta vez cheguei a abrir a boca
para falar. Só faltou a voz. Agarrei com força o celular e deixei escapar um
soluço. E ele escutou.
−
Onde você está?
Pronto, ele descobriu que era eu.
Desliguei o telefone na hora e voltei correndo para a varanda. As lágrimas
escorriam pelo meu rosto quando devolvi o celular para Victor.
−
O que você fez agora? – perguntou meu amigo, sem saber se me apoiava ou se ria
da situação.
−
Eu chorei no telefone! – respondi quase histérica – E ele reconheceu meu
soluço.
Os dois desabaram a rir. Fiquei
parada na frente deles, sem saber o que fazer.
−
Isto não tem graça nenhuma – murmurei.
−
Tudo bem – disse Victor, tentando se controlar – Me conte o que houve.
−
Bem, eu… - minhas mãos se retorciam nervosas – Ele atendeu logo da primeira
vez.
Acho que ele sabia que era eu de novo. Não respondi e o Nando perguntou
quem estava do outro lado da linha. Então eu solucei! Victor, ele reconheceu
meu soluço! Que ridículo!
−
E depois? – perguntou Victor curioso – O que seu namorado disse?
−
Perguntou onde eu estava.
−
E você?
−
Eu desliguei.
Victor e Fred se entreolharam com
uma expressão de desânimo.
−
Inacreditável – sussurrou Victor.
−
Eu… eu não senti amor na voz dele – expliquei, sentindo a garganta apertar.
Sim, era isto. Total falta de amor.
−
Pode ter sido impressão sua – disse Fred calmamente.
−
Não foi – eu funguei, enxugando os olhos. Meu mundo estava desabando novamente
em cima de mim.
Victor me olhava ainda com uma
expressão de riso.
−
Ele perguntou onde você estava? Não foi isto?
−
Foi.
−
E você não acha que isto é uma prova de amor?
-
Não. Você não escutou o tom de voz dele – respondi segurando o choro – Não
havia carinho, não havia amor, não havia nada. O Nando está com raiva de mim
até hoje. Ele não foi capaz de superar o ódio que sente de mim – Minha voz
começou a ficar alta, perigosamente alta e histérica.
−
Pauline, você não teve tempo de escutar direito...
−
Não, Victor – pedi sentindo-me derrotada – O Nando quer saber onde estou apenas
para terminar a surra e me matar de vez!
Saí da varanda e fui para meu quarto
deixando os meus dois amigos parados na varanda, mudos. Talvez estivessem surpresos
com meu ataque de histeria e felizmente não havia nenhum hóspede por perto para
testemunhar meu surto. Tomei um banho rápido e chorei tanto que fui dormir com
uma enorme enxaqueca. Para meu próprio espanto, dormi feito uma pedra. Quando
acordei, o sol entrava pela minha janela. Minha cabeça não doía mais. Meu
coração, sim. Como eu poderia viver sabendo que o homem que eu amava ainda me
odiava?
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